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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

O cheiro de Lula

RIO DE JANEIRO - O índice de aprovação do presidente Lula baixou dez pontos. Mas continua alto. Na realidade, começa a perder gordura, a dispersar o entusiasmo que formou o tecido adiposo de sua extraordinária popularidade. Talvez venha a cair mais alguns pontos até se fixar no tradicional nicho que lhe garante de 30% a 35% do eleitorado nacional. Plataforma confortável de qualquer personagem de nossa vida pública.
Para o grosso da população, ele continua simpático, terra-a-terra, fica bem ao lado dos poderosos, das mulheres bonitas, botando bonés na cabeça, abraçando artistas. Transmite o cheiro de povo que um general presidente, não faz muito, dizia desprezar, preferindo o dos cavalos.
A moeda tem duas faces. O mesmo Lula que desperta admiração quando tenta controlar a bola numa pelada e morde uma dessas empadas que mataram o guarda não transmite a mesma empatia quando fica fechado em gabinetes, recebendo sua equipe de trabalho. É um papel ainda novo em sua carreira, a de administrador, de "capi dei tutti capi" da complicada família que nos governa.
Os resultados até agora são pífios. O mercado de trabalho continua em crise, assustando o empregado e desesperando o desempregado. A concentração de renda permanece obscena como dizia FHC e cada vez torna-se mais improvável o espetáculo de crescimento, tão solenemente prometido durante a campanha eleitoral e nos primeiros meses de governo.
Lula jogou sua prioridade máxima na reforma do Estado, já reformado dezenas de vezes, pois, quando se obtém uma reforma consistente, a realidade já a superou, criando um novo cenário para o qual a reforma obtida não está adequada. É como reformar uma escola com 40 alunos, ampliando-a para 400 alunos, mas, quando a escola fica pronta, são 4.000 os alunos que precisam dela.
O desenvolvimento tem um custo e custa caro. Monitorado pelo FMI, o Brasil pagará menos custo, mas terá um desenvolvimento às avessas.


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