São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

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NELSON MOTTA

Chinelinhos e chineladas

RIO DE JANEIRO - Eles vão gritar que é preconceito, ou pior, elitismo regional. Mas ninguém vai negar que o grosso da tropa renanzista são três senadores do Acre, três de Rondônia, três do Amapá, três de Roraima, três do Maranhão, três de Sergipe, três de Mato Grosso e, claro, três de Alagoas: um quarto do Senado. Já repararam? São sempre os mesmos, o pessoal do chinelinho, sempre ligados às práticas mais retrógradas -da política e da linguagem.
Também na Câmara, são os representantes dos Estados menores e mais atrasados que -por um golpe eleitoral da ditadura militar jamais corrigido pelos democratas de ocasião- ganharam tanto poder no Congresso quanto os eleitos pela imensa maioria da população e do PIB do país. Com bem menos votos, por eleitores cativados na ignorância, no assistencialismo e na propaganda por seus representantes.
Mas por que eleitores do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais, de Pernambuco, do Paraná, do Rio Grande do Sul, da Bahia, as maiores populações do país, continuam sendo vítimas desse preconceito regional? Que crime cometeram para que os seus votos valham tão menos do que os dos nossos patrícios desses distantes rincões, dominados pelos políticos que lhes atrasam a vida e mamam os votos?
A quem interessa manter este ato da ditadura? A muita gente, de todos os partidos, já que ninguém quer desfazer o "Pacote de Abril" de Geisel, instituído para criar uma reserva de mercado para a Arena nos grotões e dar-lhe mais assentos no Congresso, em nome do equilíbrio regional.
Não por acaso, talvez por ironia, os feudos da Arena são hoje da base aliada, ninguém lhes tira o osso. Eles absolveram Renan e condenaram o Senado. O que precisamos é de equilíbrio ético.


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