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NELSON MOTTA
Chinelinhos e chineladas
RIO DE JANEIRO - Eles vão gritar que é preconceito, ou pior, elitismo regional. Mas ninguém vai
negar que o grosso da tropa renanzista são três senadores do Acre,
três de Rondônia, três do Amapá,
três de Roraima, três do Maranhão,
três de Sergipe, três de Mato Grosso
e, claro, três de Alagoas: um quarto
do Senado. Já repararam? São sempre os mesmos, o pessoal do chinelinho, sempre ligados às práticas
mais retrógradas -da política e da
linguagem.
Também na Câmara, são os representantes dos Estados menores
e mais atrasados que -por um golpe eleitoral da ditadura militar jamais corrigido pelos democratas de
ocasião- ganharam tanto poder no
Congresso quanto os eleitos pela
imensa maioria da população e do
PIB do país. Com bem menos votos,
por eleitores cativados na ignorância, no assistencialismo e na propaganda por seus representantes.
Mas por que eleitores do Rio de
Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais, de Pernambuco, do Paraná, do
Rio Grande do Sul, da Bahia, as
maiores populações do país, continuam sendo vítimas desse preconceito regional? Que crime cometeram para que os seus votos valham
tão menos do que os dos nossos patrícios desses distantes rincões, dominados pelos políticos que lhes
atrasam a vida e mamam os votos?
A quem interessa manter este ato
da ditadura? A muita gente, de todos os partidos, já que ninguém
quer desfazer o "Pacote de Abril" de
Geisel, instituído para criar uma reserva de mercado para a Arena nos
grotões e dar-lhe mais assentos no
Congresso, em nome do equilíbrio
regional.
Não por acaso, talvez por ironia,
os feudos da Arena são hoje da base
aliada, ninguém lhes tira o osso.
Eles absolveram Renan e condenaram o Senado. O que precisamos é
de equilíbrio ético.
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