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ANTONIO DELFIM NETTO
Gastos e crescimento
As discussões na Câmara e no
Senado sobre a "reforma tributária" revelaram a imensa dificuldade de
manter o Estado (União, Estados e
municípios) dentro dos estreitos limites do produto interno bruto. Ao ouvir o clamor federal para programas
redistributivos, as queixas dos governadores sobre a impossibilidade de
pagarem suas dívidas e o patético apelo dos prefeitos por mais recursos, o
cidadão comum entrou em estado de
perplexidade. Se a carga tributária
bruta é de 37% e ainda fazem um déficit nominal de 4%, como é possível
que faltem recursos para atender as
demandas sociais? Estarão eles investindo exageradamente em infra-estrutura, em subsídios agrícolas e industriais ou na exportação que dentro em
breve nos levarão ao crescimento chinês? Estarão eles investindo em educação (ciência básica e desenvolvimento tecnológico) e saúde que nos
colocarão numa posição vantajosa de
desenvolvimento humano em relação
ao nosso PIB per capita e que em breve acelerarão o nosso crescimento?
Nem uma coisa nem outra! Isso tem
levado alguns economistas a imaginar
que, "com tal carga tributária, a volta
ao crescimento é impossível". Trata-se, obviamente, de um "non sequitur", pois, a rigor, não é a "carga tributária" que impede o crescimento, mas
o uso inadequado que se faz dos recursos. Com tal carga tributária, o Estado poderia estar investindo 10% do
PIB, e não desinvestindo! Com isso,
certamente, estaríamos crescendo. É
claro que melhor ainda seria deixar
metade disso nas mãos do setor privado e usar o restante nos projetos que
exigem a participação do Estado.
Aquele pensamento é um resíduo
do tempo em que os trabalhos de Robert Barro pareciam robustos. Mantendo constantes todos os fatores de
crescimento, Barro pensou ter encontrado uma relação negativa entre alta
carga tributária (e o alto dispêndio governamental) e a taxa de crescimento
econômico. Estudos posteriores mostraram que, mesmo torturando as estatísticas com métodos econométricos ultra-sofisticados, é difícil encontrar tal relação.
O nosso drama é que, somando as
pretensões da União, dos Estados e
dos municípios, nem uma carga tributária de 100% do PIB seria suficiente!
O que parece claro é que uma carga
tributária de 37% já é altamente perniciosa: ela produz, necessariamente,
distorções na poupança privada, na
oferta de trabalho e nos investimentos
privados. Distorções que eventualmente poderiam ser minimizadas pelo substancial investimento público.
Mas este não existe, exatamente porque o Estado (União, Estados e municípios) dissipa os seus recursos em
gastos de custeio e no pagamento de
juros sobre a fantástica dívida que
acumulou.
Nas discussões sobre a reforma tributária, velhos fantasmas ganharam
nova vida (como a progressividade), e
nenhum dos princípios canônicos para eliminar as distorções dos preços
relativos foi seriamente considerado,
o que significa que ela pouco contribuirá para melhorar a eficiência da
economia.
A reforma de que precisamos é a reforma dos gastos. A Câmara dos Deputados e o Senado, apoiados no seu
órgão auxiliar, o Tribunal de Contas
(que tem melhorado dramaticamente), deveriam constituir uma comissão especial para o aperfeiçoamento
dos serviços públicos e estabelecer
uma meta obrigatória de redução dos
gastos reais de custeio de 2% ou 3% ao
ano para os próximos dez anos.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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