São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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MAIORIA MORAL

A questão moral acabou desempenhando um papel maior do que o antecipado para o desfecho da eleição presidencial norte-americana. Embora as pesquisas eleitorais se tenham mostrado deficientes e incapazes de apontar o resultado, uma delas trouxe dado que parece bastante revelador: 36% dos eleitores afirmaram ter decidido seu voto com base em "valores morais".
Esse é, por excelência, um terreno em que Bush se sai melhor do que Kerry. O presidente, ex-alcoólatra e ex-ovelha negra da família, "renascido para o mundo" por força da conversão religiosa, simboliza muito do que a população mais conservadora considera como valores positivos. Os aspectos biográficos foram ainda reforçados por um discurso fortemente crítico em relação a temas tabus para religiosos, como aborto, pesquisa com embriões humanos e o casamento homossexual.
Uma amostra da dimensão que assuntos como esses assumem na sociedade norte-americana pode ser obtida nos resultados de plebiscitos estaduais. Com efeito, 11 dos 50 Estados submeteram a consulta popular projetos para banir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em todos, as propostas foram aprovadas.
Nessa eleição, assistiu-se ao retorno da outrora famosa "maioria moral", o movimento conservador liderado pelo reverendo Jerry Falwell. Nos anos 80, a maioria moral desempenhou importante papel na eleição de líderes direitistas como Ronald Reagan. Entre outras posições, o grupo defendia a prática de orações e o ensino do criacionismo nas escolas públicas e se opunha à emenda da igualdade de direitos, ao homossexualismo e ao aborto, bem como aos tratados de desarmamento nuclear assinados com a URSS.
A maioria moral como movimento organizado foi extinta em 1989. Seus ideais, contudo, sempre existiram na sociedade norte-americana e parecem ter assumido uma nova dimensão após o 11 de Setembro. Nas eleições de terça-feira, a onda conservadora encontrou em Bush sua mais bem-acabada expressão política.


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