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MAIORIA MORAL
A questão moral acabou desempenhando um papel maior
do que o antecipado para o desfecho
da eleição presidencial norte-americana. Embora as pesquisas eleitorais
se tenham mostrado deficientes e incapazes de apontar o resultado, uma
delas trouxe dado que parece bastante revelador: 36% dos eleitores afirmaram ter decidido seu voto com base em "valores morais".
Esse é, por excelência, um terreno
em que Bush se sai melhor do que
Kerry. O presidente, ex-alcoólatra e
ex-ovelha negra da família, "renascido para o mundo" por força da conversão religiosa, simboliza muito do
que a população mais conservadora
considera como valores positivos. Os
aspectos biográficos foram ainda reforçados por um discurso fortemente crítico em relação a temas tabus
para religiosos, como aborto, pesquisa com embriões humanos e o casamento homossexual.
Uma amostra da dimensão que assuntos como esses assumem na sociedade norte-americana pode ser
obtida nos resultados de plebiscitos
estaduais. Com efeito, 11 dos 50 Estados submeteram a consulta popular
projetos para banir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em todos, as propostas foram aprovadas.
Nessa eleição, assistiu-se ao retorno da outrora famosa "maioria moral", o movimento conservador liderado pelo reverendo Jerry Falwell.
Nos anos 80, a maioria moral desempenhou importante papel na
eleição de líderes direitistas como
Ronald Reagan. Entre outras posições, o grupo defendia a prática de
orações e o ensino do criacionismo
nas escolas públicas e se opunha à
emenda da igualdade de direitos, ao
homossexualismo e ao aborto, bem
como aos tratados de desarmamento
nuclear assinados com a URSS.
A maioria moral como movimento
organizado foi extinta em 1989. Seus
ideais, contudo, sempre existiram na
sociedade norte-americana e parecem ter assumido uma nova dimensão após o 11 de Setembro. Nas eleições de terça-feira, a onda conservadora encontrou em Bush sua mais
bem-acabada expressão política.
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