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ELIANE CANTANHÊDE
Para Fidel
RIO DE JANEIRO - Atenção sr. Fidel Castro, presidente eterno de Cuba: alguém está boicotando gestos de simpatia do governo brasileiro em sua
direção.
O Itamaraty pôs e o Planalto retirou de última hora a referência que o
presidente Lula faria ontem a Cuba
como "nação-irmã" dos países latino-americanos e a defesa de uma
"ampliação do diálogo" com a ilha
de Fidel.
Segundo o assessor internacional
da Presidência, Marco Aurélio Garcia, essa referência nunca houve nos
esboços de discurso, a não ser que tenha sido "psicografada". Sinto muito, mas não sou médium, sou repórter. Vi a cópia com os olhos que a terra um dia há de me comer. Ou será
que há dois Itamaratys? Ou dois governos? O tira-e-põe Cuba do discurso que Lula acabou fazendo ontem,
na abertura da reunião de 12 dos 19
países das três Américas que compõem o Grupo do Rio, foi um recuo
inexplicável.
A defesa de uma ampliação do diálogo tinha sido apresentada pelo Brasil já na reunião preparatória de Brasília, em agosto, e rechaçada por parte dos países. Especialmente, claro, os
da América Central, mais atrelados
aos Estados Unidos e mais sujeitos
aos seus interesses e pressões.
Supõe-se que esse não seja o caso do
Brasil, que exercita uma política externa auto-proclamada de "ativa" e
"pró-ativa" e onde uma penca de ministros veio da esquerda e tem imensa simpatia por Fidel. Um deles, e justamente o mais forte, é José Dirceu.
Ele não só viveu na ilha como chora
ao se encontrar com Fidel.
Uma política externa ousada e corajosa comporta, sim, a defesa da
ampliação do diálogo com Cuba,
mesmo que o tema não esteja formalmente na pauta do encontro. Até
porque diálogo é o mínimo que se espera entre nações civilizadas, e isso
não significa concordar com o regime
de Fidel. Ao contrário, pode até facilitar alguma revisão dele.
A versão original do discurso de Lula conferia mais grandeza ao presidente e a seu governo. O recuo foi
mesquinho.
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