São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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NELSON MOTTA

Somos todos suspeitos

RIO DE JANEIRO - Em qualquer caixa automático americano ou europeu, você enfia o cartão, digita uma senha e retira o seu dinheiro. Na de um banco brasileiro, você tem de enfiar o cartão, digitar a senha, confirmar a sua última operação, digitar o número do cartão, o dia (ou mês ou ano) de nascimento, digitar a senha de novo, enfiar o cartão de novo e finalmente receber o dinheiro. Dizem que é para a proteção do cliente. Ou do banco?
Como esse sistema foi criado especificamente para atender a brasileiros, deduz-se que somos todos uns fraudadores potenciais contra os quais têm de ser tomadas todas as precauções -mesmo que isso faça os 99% de não-fraudadores perderem tempo e dinheiro. Os ladrões menos sutis arrancam e levam o caixa inteiro.
Nesse banco, para pagar contas pela internet, você tem antes de cadastrar o beneficiário. E confirmar... na agência. E só pode cadastrar um por mês. Nos estrangeiros, cadastra-se quantos quiser instantaneamente e transfere-se o dinheiro na hora.
Para alugar um apartamento no Rio de Janeiro, apesar da ficha limpa e um bom avalista, quase desisti, tantas as exigências inúteis e até ofensivas, mais apropriadas a um trambiqueiro. Entre elas a de que todas as assinaturas deveriam ser reconhecidas pe-sso-al-men-te no cartório. Como ninguém acredita mais nas firmas reconhecidas "normais", criou-se essa nova exigência. Como se isso garantisse contra maus pagadores. Só serve para castigar os honestos. E para dar uma grana extra aos cartórios. E os cartórios, hein? São hereditários, como as capitanias, e vivem da burocracia e da desconfiança.
Bem, no Brasil te fazem escrever um telefone, qualquer telefone, no verso do cheque. Como garantia...
Porque, em princípio, somos todos suspeitos. Mas os bandidos e ladrões estão sempre soltos.


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