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NELSON MOTTA
Somos todos suspeitos
RIO DE JANEIRO - Em qualquer caixa automático americano ou europeu, você enfia o cartão, digita uma
senha e retira o seu dinheiro. Na de
um banco brasileiro, você tem de enfiar o cartão, digitar a senha, confirmar a sua última operação, digitar o
número do cartão, o dia (ou mês ou
ano) de nascimento, digitar a senha
de novo, enfiar o cartão de novo e finalmente receber o dinheiro. Dizem
que é para a proteção do cliente. Ou
do banco?
Como esse sistema foi criado especificamente para atender a brasileiros,
deduz-se que somos todos uns fraudadores potenciais contra os quais
têm de ser tomadas todas as precauções -mesmo que isso faça os 99%
de não-fraudadores perderem tempo
e dinheiro. Os ladrões menos sutis arrancam e levam o caixa inteiro.
Nesse banco, para pagar contas pela internet, você tem antes de cadastrar o beneficiário. E confirmar... na
agência. E só pode cadastrar um por
mês. Nos estrangeiros, cadastra-se
quantos quiser instantaneamente e
transfere-se o dinheiro na hora.
Para alugar um apartamento no
Rio de Janeiro, apesar da ficha limpa
e um bom avalista, quase desisti, tantas as exigências inúteis e até ofensivas, mais apropriadas a um trambiqueiro. Entre elas a de que todas as
assinaturas deveriam ser reconhecidas pe-sso-al-men-te no cartório. Como ninguém acredita mais nas firmas reconhecidas "normais", criou-se essa nova exigência. Como se isso
garantisse contra maus pagadores.
Só serve para castigar os honestos. E
para dar uma grana extra aos cartórios. E os cartórios, hein? São hereditários, como as capitanias, e vivem
da burocracia e da desconfiança.
Bem, no Brasil te fazem escrever
um telefone, qualquer telefone, no
verso do cheque. Como garantia...
Porque, em princípio, somos todos
suspeitos. Mas os bandidos e ladrões
estão sempre soltos.
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