São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Narcopolítica federal

SÃO PAULO - As eleições, a estréia do novo governo e as festas de final de ano tiraram do foco o escabroso caso do deputado federal Pinheiro Landim, discretamente defenestrado pelo PMDB depois que a Polícia Federal descobriu que o parlamentar parlamentava com um megatraficante.
Landim não é mero caso de polícia. É mais uma evidência revoltante da extensão da narcopolítica no país. O deputado é acusado de negociar facilidades judiciais, como habeas corpus, para a quadrilha de Leonardo Dias Mendonça, vulgo "Leo".
Leo é quente. Apresentou Fernandinho Beira-Mar às Farc, a guerrilha do tráfico colombiana. Os dois já foram hóspedes do empresário da coca colombiano Tomas Molina-Caracas, vulgo "Negro Acácio". Os negócios de Leo e Beira-Mar têm ramificações em São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Rondônia, Roraima, Pará, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Suriname e Paraguai.
O caso Leo-Landim espirrou em juízes federais. Evidências e fortes suspeitas de envolvimento da cúpula do judiciário nacional não são novidade pelo menos desde a CPI do Narcotráfico, encerrada em 2000. A CPI indiciou 800 pessoas: advogados, empresários, policiais, juízes, deputados, prefeitos e ex-governadores, na maioria acusados de narcotráfico, roubo de cargas, lavagem de dinheiro, sonegação, execuções e propina.
A CPI fisgou Hildebrando Pascoal, o maníaco da motosserra, ex-deputado do PFL do Acre. Soube-se que desembargadores e políticos do Acre, Amazonas, Maranhão e Mato Grosso tinham ligações com traficantes. Agora, a operação da PF que pescou Landim mostrou relação entre os juízes suspeitos de Leo com juízes próximos da turma da grilagem de terras no Distrito Federal, amigos do governador Joaquim Roriz (PMDB).
Falar em colombianização é exagero -por ora. Mas já ficou evidente que quadrilhas nacionais já chegaram bem perto de membros da cúpula da República. Trata-se de um caso de emergência nacional.



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