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GABRIELA WOLTHERS
A esperança venceu o medo?
RIO DE JANEIRO - Nos oito anos de
seu mandato, FHC apanhou sem dó
toda vez que culpou a oposição por
não ter conseguido realizar projetos
que considerava importantes. Ele e
sua equipe diziam que a esquerda
votava contra o Brasil, que estava
apostando no "quanto pior, melhor",
eram fracassomaníacos, neobobos.
Mal acabavam de falar e já eram
torpedeados pela repercussão de articulistas, cientistas políticos, historiadores etc. Com uma ou outra diferença, argumentavam que os tucanos
atropelavam as regras do jogo democrático, querendo impor suas idéias
como se fossem verdades únicas.
Apesar de achar que a esquerda poderia ter facilitado a aprovação de
reformas como a da Previdência, não
concordava com a retórica tucana de
responsabilizar o adversário. Na democracia, cabe ao partido que está
no poder obter maioria no Congresso. E FHC sempre teve essa maioria.
Todas as suas derrotas ocorreram
quando os seus próprios aliados se rebelaram. A oposição, em minoria,
pouco podia fazer além de barulho.
O tempo passou, o governo mudou,
e caberá a Lula articular a sua maioria. Nada mais natural. Pois não é
que, de repente, pessoas que acusavam e continuam acusando o ex-presidente de ter usado um discurso antidemocrático resolvem seguir a mesma cartilha, com requintes adicionais de terrorismo?
Em entrevista a Plínio Fraga publicada ontem na Folha, o historiador
Luiz Felipe de Alencastro, crítico da
era FHC, afirma sem meias palavras
que, se a direita "jogar a política do
quanto pior, melhor", levará a "América Latina de roldão". E completa:
"Será a africanização da América do
Sul, com conflito, guerra civil e, por
extensão, tráfico de drogas, levando a
uma situação sem controle, com intervenção de tropa americana lá na
fronteira com Paraguai e Argentina,
sob alegação de terrorismo". O que é
isso, companheiro? Nem o megainvestidor George Soros teve coragem
de ir tão longe.
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