São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003

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GABRIELA WOLTHERS

A esperança venceu o medo?

RIO DE JANEIRO - Nos oito anos de seu mandato, FHC apanhou sem dó toda vez que culpou a oposição por não ter conseguido realizar projetos que considerava importantes. Ele e sua equipe diziam que a esquerda votava contra o Brasil, que estava apostando no "quanto pior, melhor", eram fracassomaníacos, neobobos.
Mal acabavam de falar e já eram torpedeados pela repercussão de articulistas, cientistas políticos, historiadores etc. Com uma ou outra diferença, argumentavam que os tucanos atropelavam as regras do jogo democrático, querendo impor suas idéias como se fossem verdades únicas.
Apesar de achar que a esquerda poderia ter facilitado a aprovação de reformas como a da Previdência, não concordava com a retórica tucana de responsabilizar o adversário. Na democracia, cabe ao partido que está no poder obter maioria no Congresso. E FHC sempre teve essa maioria. Todas as suas derrotas ocorreram quando os seus próprios aliados se rebelaram. A oposição, em minoria, pouco podia fazer além de barulho.
O tempo passou, o governo mudou, e caberá a Lula articular a sua maioria. Nada mais natural. Pois não é que, de repente, pessoas que acusavam e continuam acusando o ex-presidente de ter usado um discurso antidemocrático resolvem seguir a mesma cartilha, com requintes adicionais de terrorismo?
Em entrevista a Plínio Fraga publicada ontem na Folha, o historiador Luiz Felipe de Alencastro, crítico da era FHC, afirma sem meias palavras que, se a direita "jogar a política do quanto pior, melhor", levará a "América Latina de roldão". E completa: "Será a africanização da América do Sul, com conflito, guerra civil e, por extensão, tráfico de drogas, levando a uma situação sem controle, com intervenção de tropa americana lá na fronteira com Paraguai e Argentina, sob alegação de terrorismo". O que é isso, companheiro? Nem o megainvestidor George Soros teve coragem de ir tão longe.



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