|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
O gigante e o pigmeu
RIO DE JANEIRO - Davi, um dos
personagens mais importantes do
Velho Testamento, e de cuja descendência nasceria o Messias, era
um jovem pastor que derrotou Golias, o gigante filisteu, com uma
simples funda. Qualquer guerra ou
briga desproporcional lembra o
episódio inicial do futuro rei e
salmista.
No atual conflito entre Israel e os
palestinos da faixa de Gaza, alguns
analistas lembram o duelo entre
Davi e Golias, embora às avessas.
Dessa vez, o gigante é Israel, acusado, entre outras coisas, de revidar
desproporcionalmente ao pigmeu
adversário.
Não há registro de guerras proporcionais. Um dos lados é sempre
mais forte. Se houvesse uma lei universal estabelecendo a proporcionalidade das guerras, todas elas terminariam empatadas, como o campeonato de futebol na Bahia se acaso a macumba decidisse as partidas.
É evidente que o massacre promovido contra Gaza aterroriza a comunidade internacional. Os mais
exaltados lembram que os palestinos estão sofrendo um novo holocausto. De outro lado, reconhece-se
o direito de Israel de se defender
dos ataques do Hamas. E é justamente isso o que ele está fazendo há
60 anos contra seus inimigos -mas
sem vencer realmente.
As vitórias nas diversas guerras
pela instalação e segurança do Estado judeu foram obtidas militarmente pelo mais forte, mas se reduziram a batalhas que não decidiram
o conflito. Pelo contrário: deram
mais motivos para a continuação da
luta.
Dois anos atrás, a briga foi ao norte de Israel, em território libanês,
contra o Hizbollah. Agora é no sul,
na faixa de Gaza, contra o Hamas. A
funda dos palestinos não derrubou
o Golias. Tampouco o Golias encontrou o caminho para se livrar daqueles que o atacam. A força não
trará a paz, a não ser a continuação
da força.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Reis mortos, rei posto Próximo Texto: Marcos Nobre: Por um pacifismo radical Índice
|