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CLÓVIS ROSSI
Truculência inaceitável
SÃO PAULO - O prefeito de São
Paulo, Gilberto Kassab (PFL), promoveu ontem um intolerável e
inadmissível show de prepotência,
truculência e descontrole ao expulsar Kaiser Paiva de uma unidade de
saúde. Tudo por causa de um protesto de Paiva, que se identificou
como dono de uma pequena empresa de placas de publicidade (dessas que a prefeitura proibiu).
Pode-se até aceitar um dos argumentos de Kassab, segundo o qual
um posto de saúde não é exatamente o local indicado para uma manifestação de protesto, pelo potencial
de danos aos pacientes que aguardavam atendimento.
Mas o prefeito perde completamente o argumento, porque ele
próprio fez uma "manifestação",
aos berros, mais altos até do que o
protesto de Paiva. Deve ter incomodado muito mais, com o adendo de
que se trata de um administrador
público, a última pessoa de quem se
espera tal incomodo.
Kassab tratou o manifestante como "vagabundo", outra atitude inaceitável. O prefeito não sabia com
quem estava lidando para ofendê-lo
dessa maneira, a não ser que tenha
o viés fascistóide de considerar todo e qualquer manifestante um "vagabundo", que só protesta por não
ter o que fazer.
A obrigação primária, palmar, de
qualquer autoridade pública é ouvir
os cidadãos sobre seus problemas.
No Brasil -e a capital paulista não é
exceção à regra-, essa obrigação só
muito raramente é cumprida, seja
qual for o prefeito, o governador, o
presidente. Essa distância entre o
poder público e os cidadãos muito
possivelmente esteja na origem da
manifestação unipessoal de Kaiser
Paiva.
Ouvi-lo ou pedir a algum assessor
que o ouvisse (e as autoridades estão sempre cercadas de um quilo de
"aspones") resolveria facilmente o
problema.
Ao preferir a truculência, Kassab
lembrou os piores tempos das pirotecnias de Fernando Collor.
crossi@uol.com.br
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