São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Truculência inaceitável

SÃO PAULO - O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), promoveu ontem um intolerável e inadmissível show de prepotência, truculência e descontrole ao expulsar Kaiser Paiva de uma unidade de saúde. Tudo por causa de um protesto de Paiva, que se identificou como dono de uma pequena empresa de placas de publicidade (dessas que a prefeitura proibiu).
Pode-se até aceitar um dos argumentos de Kassab, segundo o qual um posto de saúde não é exatamente o local indicado para uma manifestação de protesto, pelo potencial de danos aos pacientes que aguardavam atendimento.
Mas o prefeito perde completamente o argumento, porque ele próprio fez uma "manifestação", aos berros, mais altos até do que o protesto de Paiva. Deve ter incomodado muito mais, com o adendo de que se trata de um administrador público, a última pessoa de quem se espera tal incomodo.
Kassab tratou o manifestante como "vagabundo", outra atitude inaceitável. O prefeito não sabia com quem estava lidando para ofendê-lo dessa maneira, a não ser que tenha o viés fascistóide de considerar todo e qualquer manifestante um "vagabundo", que só protesta por não ter o que fazer.
A obrigação primária, palmar, de qualquer autoridade pública é ouvir os cidadãos sobre seus problemas.
No Brasil -e a capital paulista não é exceção à regra-, essa obrigação só muito raramente é cumprida, seja qual for o prefeito, o governador, o presidente. Essa distância entre o poder público e os cidadãos muito possivelmente esteja na origem da manifestação unipessoal de Kaiser Paiva.
Ouvi-lo ou pedir a algum assessor que o ouvisse (e as autoridades estão sempre cercadas de um quilo de "aspones") resolveria facilmente o problema.
Ao preferir a truculência, Kassab lembrou os piores tempos das pirotecnias de Fernando Collor.


crossi@uol.com.br

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