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PLÍNIO FRAGA
O Haiti e aqui
RIO DE JANEIRO - A miséria humana não só aniquila os sentidos
como parece irreversível. A frase de
George Packer, jornalista da "New
Yorker", faz parte de seu relato
aterrador sobre a vida de 15 milhões
de pessoas que habitam Lagos, na
Nigéria, em artigo publicado na revista "Piauí". "Os visitantes da cidade não são recebidos com as palavras "Bem-vindo a Lagos", e sim com
"Isto é Lagos", uma sinistra constatação factual", escreve ele.
Seis milhões e meio de brasileiros
vivem em favelas, se aceito como
critério o acesso ao saneamento e a
precariedade de moradia. O economista André Urani sugere que a
qualidade de vida é impossível em
cidades com mais de 7 milhões de
habitantes. Ou seja, não basta impedir o inchaço, mas seria necessário reduzir o número de habitantes.
A pergunta é: como?
O jornalista Howell Raines, ex-diretor de Redação do "New York
Times", passou férias no Rio, impressionou-se com o tamanho da
favela da Rocinha e perguntou a um
brasileiro: "O que vocês pretendem
fazer com aquela gente?".
É a pergunta feita muitas vezes ao
urbanista Sérgio Magalhães, que
conhece mais de 150 favelas cariocas como criador do programa Favela-Bairro, de reformas urbanas.
Sua resposta: "Integrar à cidade".
Desde o ano passado, Magalhães
começou a trabalhar em Bel Air, um
dos bairros mais pobres de Porto
Príncipe, no Haiti. As dificuldades
são ainda mais gigantescas do que
no Brasil. Não se limitam a questões econômicas, já difíceis de solucionar. "Não é que falte água lá.
Água não existe", exemplifica.
O urbanista recebeu a sugestão
de escrever sobre suas experiências
no Rio e em Porto Príncipe em um
livro que nasce com o título pronto:
"O Haiti e Aqui". Pode chegar a duas
constatações: lá é infinitamente
pior, mas aqui as coisas ainda podem agravar-se mais.
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