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Emílio Ribas: restabelecendo a verdade
MÁRCIO CIDADE GOMES
Se há críticas construtivas, são muito bem-vindas. A realidade do Emílio Ribas, porém, é bem diferente da externada há uma semana
INICIALMENTE, é necessário esclarecer: o Instituto do Coração
(InCor) do Hospital das Clínicas
de São Paulo não passa por dificuldade financeira. Tampouco o Instituto
de Infectologia Emílio Ribas enfrenta
problemas administrativos, financeiros ou de modelos de administração
que comprometam sua atuação. E, diferentemente do afirmado no artigo
"Saúde: primo rico e primo pobre"
("Tendências/Debates", 26/2), os
dois hospitais recebem, sim, igual
atenção do governo do Estado.
No caso do InCor, é importante esclarecer que existe dívida da Fundação Zerbini, entidade de direito privado que apóia o hospital. A dívida não é
do InCor.
Em novembro de 2006, a fundação,
devido às dificuldades, pagou pela primeira vez com atraso o complemento
salarial dos funcionários do InCor.
No mês seguinte, a Secretaria da Saúde do Estado honrou o pagamento do
complemento e de parte do 13º salário, visando garantir a continuidade
do serviço prestado pelo hospital. O
PLC nº 79/06, submetido à Assembléia Legislativa, teve por objetivo
criar condições para que o quadro de
pessoal do InCor não tivesse prejuízo.
O Emílio Ribas, centenária referência nacional para tratamento de
doenças infecto-contagiosas, é de administração direta da secretaria. Sua
situação administrativa é distinta da
do InCor apenas pelo fato de não haver uma fundação de apoio ao hospital. Todos os profissionais ligados à
assistência são funcionários estaduais concursados e prestam inestimável serviço à população brasileira.
Não se sustenta a alegação de falta
de recursos ao Emílio Ribas. Basta
mencionar que os valores repassados
pelo governo do Estado ao hospital
para custeio e investimento cresceram 32% nos últimos quatro anos,
passando de R$ 54,6 milhões em
2003 para R$ 60,3 milhões em 2004,
R$ 67 milhões no ano seguinte e R$
72 milhões em 2006.
É verdade, como disse o autor do
referido artigo, que a Secretaria da
Saúde recebeu do corpo clínico, em
2003, diagnóstico do instituto e sugestões de mudanças. Mas também é
verdade que, desde esse mesmo ano,
quando a direção do Emílio Ribas foi
mudada, o hospital vem passando por
um contínuo processo de melhorias,
incluindo reformas de alas, aquisição
de modernos equipamentos, humanização do atendimento e reforço de
seu corpo de voluntários. No total, são
cerca de 200 leitos e 1.906 funcionários, dos quais 326 médicos e 795 profissionais de enfermagem, com um
dos mais altos índices de funcionários
e médicos por leito dos hospitais públicos de São Paulo.
Entre as obras já feitas no hospital,
podemos citar as reformas do pronto-socorro, da farmácia e dos três primeiros andares do prédio da internação, a construção do prédio de portaria com moderno anfiteatro e salas de
aulas (para atualização de aprendizado dos profissionais), a criação de unidade odontológica e de novos espaços
para medicina do viajante, dispensação de medicamentos e a nova ala para exames como eletroencefalograma
e eletrocardiografia.
Até o fim de março, o Emílio Ribas
entrega mais setores, como o atendimento modernizado no hospital-dia.
O próximo passo será a construção do
novo prédio do ambulatório, que quadruplicará o atendimento. Cabe lembrar: o Emílio Ribas é o principal instituto de infectologia do país, podendo receber casos de doenças que assustam o mundo, como gripe aviária.
As melhorias em curso permitiram
ampliação da assistência ambulatorial e de especialidades: de 68,2 mil
atendimentos em 2003 para 95,4 mil
em 2006. O hospital vem recebendo
até pacientes de outros países, como
Portugal, Espanha, Japão e China, em
busca de atendimento de qualidade.
Pesquisa de dezembro de 2006 com
2.637 pacientes do Emílio Ribas mostrou que 81% deles consideraram o
serviço do hospital ótimo ou bom. O
atendimento médico aos pacientes
internados teve nota média de 9,8.
O Emílio Ribas também passou por
reorganização administrativa. De forma nenhuma as ações são centralizadoras. Incluem, por exemplo, reuniões periódicas com a associação dos
médicos do hospital. O autor do referido artigo, inclusive, tem livre acesso
à sala da direção técnica e direito a voto nas reuniões deliberativas.
Se há críticas construtivas, são muito bem-vindas. Eventuais falhas sempre devem ser apontadas e certamente serão corrigidas. A realidade do
Instituto Emílio Ribas, entretanto, é
bem diferente da que foi externada há
uma semana nesta Folha.
MÁRCIO CIDADE GOMES, 52, médico, é coordenador dos
hospitais da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo.
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