São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2007

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Emílio Ribas: restabelecendo a verdade

MÁRCIO CIDADE GOMES

Se há críticas construtivas, são muito bem-vindas. A realidade do Emílio Ribas, porém, é bem diferente da externada há uma semana

INICIALMENTE, é necessário esclarecer: o Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas de São Paulo não passa por dificuldade financeira. Tampouco o Instituto de Infectologia Emílio Ribas enfrenta problemas administrativos, financeiros ou de modelos de administração que comprometam sua atuação. E, diferentemente do afirmado no artigo "Saúde: primo rico e primo pobre" ("Tendências/Debates", 26/2), os dois hospitais recebem, sim, igual atenção do governo do Estado.
No caso do InCor, é importante esclarecer que existe dívida da Fundação Zerbini, entidade de direito privado que apóia o hospital. A dívida não é do InCor.
Em novembro de 2006, a fundação, devido às dificuldades, pagou pela primeira vez com atraso o complemento salarial dos funcionários do InCor.
No mês seguinte, a Secretaria da Saúde do Estado honrou o pagamento do complemento e de parte do 13º salário, visando garantir a continuidade do serviço prestado pelo hospital. O PLC nº 79/06, submetido à Assembléia Legislativa, teve por objetivo criar condições para que o quadro de pessoal do InCor não tivesse prejuízo.
O Emílio Ribas, centenária referência nacional para tratamento de doenças infecto-contagiosas, é de administração direta da secretaria. Sua situação administrativa é distinta da do InCor apenas pelo fato de não haver uma fundação de apoio ao hospital. Todos os profissionais ligados à assistência são funcionários estaduais concursados e prestam inestimável serviço à população brasileira. Não se sustenta a alegação de falta de recursos ao Emílio Ribas. Basta mencionar que os valores repassados pelo governo do Estado ao hospital para custeio e investimento cresceram 32% nos últimos quatro anos, passando de R$ 54,6 milhões em 2003 para R$ 60,3 milhões em 2004, R$ 67 milhões no ano seguinte e R$ 72 milhões em 2006.
É verdade, como disse o autor do referido artigo, que a Secretaria da Saúde recebeu do corpo clínico, em 2003, diagnóstico do instituto e sugestões de mudanças. Mas também é verdade que, desde esse mesmo ano, quando a direção do Emílio Ribas foi mudada, o hospital vem passando por um contínuo processo de melhorias, incluindo reformas de alas, aquisição de modernos equipamentos, humanização do atendimento e reforço de seu corpo de voluntários. No total, são cerca de 200 leitos e 1.906 funcionários, dos quais 326 médicos e 795 profissionais de enfermagem, com um dos mais altos índices de funcionários e médicos por leito dos hospitais públicos de São Paulo.
Entre as obras já feitas no hospital, podemos citar as reformas do pronto-socorro, da farmácia e dos três primeiros andares do prédio da internação, a construção do prédio de portaria com moderno anfiteatro e salas de aulas (para atualização de aprendizado dos profissionais), a criação de unidade odontológica e de novos espaços para medicina do viajante, dispensação de medicamentos e a nova ala para exames como eletroencefalograma e eletrocardiografia.
Até o fim de março, o Emílio Ribas entrega mais setores, como o atendimento modernizado no hospital-dia. O próximo passo será a construção do novo prédio do ambulatório, que quadruplicará o atendimento. Cabe lembrar: o Emílio Ribas é o principal instituto de infectologia do país, podendo receber casos de doenças que assustam o mundo, como gripe aviária.
As melhorias em curso permitiram ampliação da assistência ambulatorial e de especialidades: de 68,2 mil atendimentos em 2003 para 95,4 mil em 2006. O hospital vem recebendo até pacientes de outros países, como Portugal, Espanha, Japão e China, em busca de atendimento de qualidade.
Pesquisa de dezembro de 2006 com 2.637 pacientes do Emílio Ribas mostrou que 81% deles consideraram o serviço do hospital ótimo ou bom. O atendimento médico aos pacientes internados teve nota média de 9,8.
O Emílio Ribas também passou por reorganização administrativa. De forma nenhuma as ações são centralizadoras. Incluem, por exemplo, reuniões periódicas com a associação dos médicos do hospital. O autor do referido artigo, inclusive, tem livre acesso à sala da direção técnica e direito a voto nas reuniões deliberativas.
Se há críticas construtivas, são muito bem-vindas. Eventuais falhas sempre devem ser apontadas e certamente serão corrigidas. A realidade do Instituto Emílio Ribas, entretanto, é bem diferente da que foi externada há uma semana nesta Folha.


MÁRCIO CIDADE GOMES, 52, médico, é coordenador dos hospitais da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo.

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