São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

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MARCELO BERABA

Tudo é possível

RIO DE JANEIRO - "País termina anos 90 tão desigual como começou."
"Indicadores sociais melhoram; concentração de renda não cai."
"Década do real não mudou a desigualdade econômica do país."
"País melhora, mas desigualdades persistem".
"Renda cresce e desigualdade persiste."
Com raras exceções, essas foram as manchetes de ontem dos principais jornais do país depois que o IBGE divulgou os indicadores sociais da década de 90.
Na semana passada, a Folha já tinha dado manchete parecida -"Social melhora, mas desigualdade cresce"- quando a ONU e o Ipea divulgaram pesquisa sobre indicadores de desenvolvimento humano e de condições de vida em doze capitais.
Não resta, portanto, qualquer dúvida. Este continua sendo o nosso grande problema: o bolo cresce, mas não é dividido. A diferença de renda entre as classes e as regiões persiste de forma iníqua.
Como escrevi na semana passada, não criamos um país, mas uma máquina de concentração de renda e de reprodução de desigualdades. Como reverter esse quadro? Tudo indica que dificilmente conseguiremos com as políticas implementadas ao longo das duas últimas décadas.
É interessante que esses dados -todos oficiais, deve-se frisar- surjam exatamente quando Fernando Henrique pensa no seu ministro da Fazenda, Pedro Malan, o xerife da política econômica que manteve as desigualdades, como uma das possibilidades para a sua sucessão.
Mas como assistimos, nos anos 90, os sociais-democratas implantarem e gerirem com sucesso as políticas neoliberais, é possível que nos surpreendamos com um neoliberal implantando e gerindo com sucesso políticas eficazes de distribuição de renda.


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