|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Expressão da liberdade
RIO DE JANEIRO - Assunto recorrente, a liberdade de expressão
continua provocando polêmica entre os interessados. Como qualquer
liberdade, ela exige responsabilidade. Não é nem deve ser um valor absoluto, acima de qualquer outro,
pairando além da condição humana. Tal como o direito de ir e de vir:
podemos ir às ilhas Papuas ou vir da
Patagônia, mas não podemos entrar na casa do vizinho a não ser expressamente convidados, autorizados pela Justiça ou para prestar
socorro.
Volta e meia pretende-se atualizar a Lei de Imprensa para pressionar jornalistas e empresas do ramo
da comunicação social. Em sua parte punitiva, ela é um pleonasmo jurídico: os códigos Civil e Penal já estabelecem casos e penas para os crimes de injúria, de calúnia e de
difamação.
Está se tornando comum a reação de alguns jornalistas que se
consideram injuriados pelo fato de
serem processados ou ameaçados
de processo. É o preço que se paga
pela liberdade de opinião. No meu
caso pessoal, fui processado várias
vezes, condenado em alguns casos,
absolvido em outros. Piores do que
os processos foram as prisões. Algumas nem foram prisões, foram seqüestros.
Como no caso de certos maridos
que batem nas mulheres, eles nem
sempre sabem por que estão batendo, mas elas sabem por que estão
apanhando (a piada é abominavelmente incorreta). Eu sabia por que
estava apanhando. Havia feito por
onde. Se tivesse ficado calado ou se
tivesse tomado o partido do mais
forte, nada me teria acontecido.
O mundo não vem abaixo pelo fato de um jornalista ser processado.
É um direito da parte contrária, tão
importante como o direito de qualquer um dizer o que pensa. Chico
Buarque foi sacaneado pelos militares, mas teve o prazer de sacanear
os donos do poder.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Pandemônio Próximo Texto: Antônio Ermírio De Moraes: 200 anos de indústria Índice
|