São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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FERNANDO RODRIGUES

Um país frágil

BRASÍLIA - A Operação Sanguessuga é um exemplo do que há de melhor e de pior nas instituições brasileiras. Ontem tornou-se pública uma lista com o carimbo "segredo de Justiça" que contém os nomes de 65 pessoas -64 deputados e um senador. Não se sabe o grau de envolvimento dessa gente. Parte certamente está comprometida com o crime investigado, mas outros possivelmente não têm a menor relação com o episódio.
O documento não esclarece isso. Pior do que não esclarecer, é um papel cheio de informações confusas. O ex-deputado Ronivon Santiago (PP-AC), que foi preso nesta semana, aparece relacionado ainda como se fosse um membro da Câmara. Outro ex-deputado, Carlos Rodrigues (PL-RJ), não tem seu nome mencionado -embora também tenha sido preso, acusado de envolvimento com a venda superfaturada de ambulâncias para prefeituras do interior.
Como as mazelas com o dinheiro público no país têm passado do limite, há uma certa sensação de alívio quando a Polícia Federal sai prendendo gente em vários Estados. Essa necessidade de espetáculo deriva da inexperiência do país para conviver plenamente com o Estado democrático de Direito.
O governo pouco se importa. O Planalto se rejubila por estar produzindo fatos sobre apurações policiais que dividem o noticiário com o agora crepuscular escândalo do mensalão.
No meio das investigações, muita coisa fica para trás. Outras são divulgadas pela metade. Entre os fatos relegados a segundo plano na Operação Sanguessuga está a ameaça de morte a um jornalista que fazia reportagem sobre o assunto.
A ameaça foi captada em uma gravação telefônica em dezembro. Nem o jornal nem o repórter foram alertados ou advertidos do perigo.
É provável que o descaso com o risco de vida do profissional tenha se dado mais por desídia do que por outro motivo. É um traço revelador sobre o funcionamento do Estado brasileiro nestes tempos estranhos.

@ - frodriguesbsb@uol.com.br


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