|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Um país frágil
BRASÍLIA - A Operação Sanguessuga é um exemplo do que há de melhor e
de pior nas instituições brasileiras.
Ontem tornou-se pública uma lista
com o carimbo "segredo de Justiça"
que contém os nomes de 65 pessoas
-64 deputados e um senador. Não
se sabe o grau de envolvimento dessa
gente. Parte certamente está comprometida com o crime investigado, mas
outros possivelmente não têm a menor relação com o episódio.
O documento não esclarece isso.
Pior do que não esclarecer, é um papel cheio de informações confusas. O
ex-deputado Ronivon Santiago (PP-AC), que foi preso nesta semana,
aparece relacionado ainda como se
fosse um membro da Câmara. Outro
ex-deputado, Carlos Rodrigues (PL-RJ), não tem seu nome mencionado
-embora também tenha sido preso,
acusado de envolvimento com a venda superfaturada de ambulâncias
para prefeituras do interior.
Como as mazelas com o dinheiro
público no país têm passado do limite, há uma certa sensação de alívio
quando a Polícia Federal sai prendendo gente em vários Estados. Essa
necessidade de espetáculo deriva da
inexperiência do país para conviver
plenamente com o Estado democrático de Direito.
O governo pouco se importa. O Planalto se rejubila por estar produzindo fatos sobre apurações policiais que
dividem o noticiário com o agora crepuscular escândalo do mensalão.
No meio das investigações, muita
coisa fica para trás. Outras são divulgadas pela metade. Entre os fatos relegados a segundo plano na Operação Sanguessuga está a ameaça de
morte a um jornalista que fazia reportagem sobre o assunto.
A ameaça foi captada em uma gravação telefônica em dezembro. Nem
o jornal nem o repórter foram alertados ou advertidos do perigo.
É provável que o descaso com o risco de vida do profissional tenha se
dado mais por desídia do que por outro motivo. É um traço revelador sobre o funcionamento do Estado brasileiro nestes tempos estranhos.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: O vizinho desconhecido Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Vítimas e assassinos Índice
|