|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Direita, volver
PARIS - É verdade que a eleição
francesa de hoje tem um componente esquerda/direita forte, pelo
menos no sentido que dá à clivagem
o notável pensador italiano Norberto Bobbio (1909/2004). Resumindo e, por isso, talvez simplificando demais, Bobbio dizia que a
esquerda se preocupa mais com a
igualdade do que com a ordem, e a
direita faz o inverso.
Nicolas Sarkozy, o candidato da
direita, não teve medo, no debate de
quarta-feira, de rejeitar o "igualitarismo", para defender o "mérito". A
socialista Ségolène Royal, ao contrário, defende uma República mãe
de todos.
O problema é que ela, como a
grande maioria das esquerdas no
mundo, não diz como financiar o
"igualitarismo" em um mundo dominado pelo capitalismo financeiro, que mudou radicalmente as regras do jogo, inclusive as bases de
apoio históricas da esquerda. A
classe operária, quando existe, já
não é referência central.
O fim do comunismo, por sua vez,
eliminou dos programas de esquerda o grande diferencial com a direita, que era a estatização dos meios
de produção, todos ou alguns. Está
fora de questão, exceto em situações muito isoladas e periféricas,
como a Venezuela de Hugo Chávez
e a Bolívia de Evo Moraes. Tanto
que o maior partido de esquerda da
América Latina, o PT brasileiro,
nem toca no assunto mesmo após
quatro anos e quatro meses de governo.
Está havendo uma "direitização
do mundo", como diz o colunista de
"El País" José Vidal-Beneyto, em
uma série de artigos.
Falta à esquerda sair dos escombros do Muro de Berlim, e "renovar
seu pensamento", como pede o chefe de Redação do "Monde", Jean-Marie Colombani.
Só assim, prossegue, a esquerda
reencontraria "sua vocação histórica, a de encarnar o movimento, a
mudança e a esperança, o otimismo
sobre o futuro".
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Censura judicial Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Apagão celular Índice
|