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CARLOS HEITOR CONY
Lição e memória
RIO DE JANEIRO - São muitas e
variadas as impressões que podemos ter de Octavio Frias de Oliveira. Há, evidentemente, um eixo, um
núcleo que está sendo abordado pelos depoimentos de personalidades
que o admiravam. Os mais próximos, que com ele conviveram e trabalharam, destacam sua objetividade, seus valores morais, seu amor à
verdade e o respeito às opiniões
contrárias ao seu modo de pensar.
Nas reuniões do Conselho Editorial que presidia, era o que menos
falava. Gostava de ouvir. Perguntaram a são Vicente de Paula qual o
segredo de seu sucesso no confessionário e ele respondeu: "Eu sei
ouvir". Seu Octavio sabia ouvir.
Dele guardo uma experiência
inédita em meus 60 anos de jornalismo militante. Quando da campanha presidencial para a sucessão de
Itamar Franco, com o eleitorado dividido entre FHC e Lula, ele deixou
claro que admirava seu antigo colaborador e amigo de muitos anos
(FHC), mas cada um deveria manifestar seu pensamento livremente.
Nos oito anos do mandato de
FHC, pelo menos duas vezes por semana eu e outros cronistas da Folha criticávamos o seu governo.
Nunca fomos censurados ou advertidos. O mesmo está acontecendo
com o governo de Lula. A independência que ele imprimiu ao seu jornal estendeu-se a seus colaboradores.
Curtido numa vida em que o trabalho era a chave de sua autonomia
como homem e como profissional,
ele exerceu outros ofícios antes de
se fixar no jornalismo, que até então era monolítico, expressando a
opinião de grupos e pessoas de pensamento homogêneo.
Abrindo seu jornal ao pluralismo
das tendências e dos debates, ele
criou um fato novo na mídia nacional, um fato que alguns ainda não
compreenderam, mas que marca
um ponto de não-retorno na imprensa brasileira.
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