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CLÓVIS ROSSI
Calma, o futuro sempre chega
SÃO PAULO - Como sou bastante
fatalista, não tenho grande inquietação para saber o que o futuro me
reserva ou aos outros habitantes do
planeta. Suspeito que o que será, será. Nem por isso me dou o direito de
desafiar a sorte fazendo o que é excessivamente arriscado (salvo em
alguns momentos em que coberturas jornalísticas exigem mesmo
correr riscos exagerados).
Mas desconfio de que eu seja minoria bem pequena. Agora, por
exemplo, parece haver imensa ansiedade em torno do que vai acontecer com a tal crise, em adivinhar se
o pior já passou ou se ainda há mais
por vir, se a recuperação terá a forma de "V", de "L" ou de "U" ou outra
letra qualquer que os oráculos inventam para simplificar as coisas.
A pressa em antecipar o futuro
acaba contaminando mesmo a mídia da melhor qualidade, como é o
caso do jornal britânico "Financial
Times". Esta Folha reproduziu ontem texto de Krishna Guha e Sarah
O'Connor, cuja essência é a de tentar injetar otimismo.
O trabalho é até bastante bom,
com uma coleção de informações
interessantes e sem arriscar-se ao
chute, travestido de previsão, sobre
o futuro próximo. Mas a pressa de
antecipar o futuro é tamanha que
os dois jornalistas escrevem, já no
finzinho do texto, o seguinte.
Dadas certas condições, que eles
listam, "novos brotos de recuperação florescerão, e os EUA -com a
China- podem liderar o mundo
em direção de uma recuperação
sustentada ainda neste ano".
Em seguida, acrescentam: "Mas
também é possível que os brotos
definhem, com a contração e a estagnação na demanda privada dos
EUA, e certamente se houver recaída no setor financeiro".
É mais ou menos como escrever
sobre o jogo de domingo passado,
que poderia ter terminado com empate, vitória do Corinthians ou vitória do Santos. Calma, gente, o futuro chegará e adivinhações não
vão mudar o seu formato.
crossi@uol.com.br
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