|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Goela abaixo
BRASÍLIA - A votação dos 7,7%
para os aposentados e do fim do fator previdenciário serve como projeção do que pode acontecer no PT
dos Estados nesta eleição. Praticamente um terço dos deputados do
partido (24 dos presentes) traiu Lula e a cúpula partidária e votou com
o aposentado, ou seja, com o eleitor.
Ponha-se no lugar do velho militante do PT que está sendo chamado, ou obrigado, a suar a camisa,
carregar a bandeira e emprestar a
estrela vermelha para Hélio Costa
em Minas e Roseana Sarney no Maranhão. Pela aliança PT-PMDB
pró-Dilma e porque Lula quer.
Dilma é artificial, mas, de cabo a
rabo, o PT a assumiu pelo projeto
maior de manter a Presidência. Cá
para nós, não restavam alternativas. Mas daí a apoiar os peemedebistas a qualquer custo...
Não é fácil. Se o nosso aguerrido
militante tem boquinhas no governo estadual e está com a vida ganha,
vá lá. Mas, se não tem boquinha nenhuma e é daqueles que acredita na
"causa" e na "ideologia" e passou a
vida lutando justamente contra Hélios e Sarneys, não vai lá, não.
Na oposição, e com o objetivo de
chegar ao poder, a bandeira, a estrela e os candidatos eram os mesmos.
Mas, depois, o poder tem dessas
coisas: interesses federais contra
regionais, cúpulas contra bases no
Congresso, caciques contra militantes nos Estados.
O trauma do PT do Rio, aliás, é razoavelmente recente. Em 1998, o
partido elegeu Vladimir Palmeira
como candidato, mas Lula interveio, Zé Dirceu operou e o partido
acabou apoiando Antony Garotinho, então do PDT. Garotinho ganhou a eleição, mas você viu as bandeiras e estrelas vermelhas tremulando por ele? Nem eu.
O que se viu foi a gênese da debacle petista num Estado de vanguarda. Mas, como o PSOL não foi capaz
de atrair a militância petista, ela é
hoje fadada, no Rio e alhures, a desfraldar bandeiras que rejeita ou, como ilustra Chico Buarque, a se "calar com a boca de feijão".
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: Londres - Clóvis Rossi: O arrastão financeiro Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Cinema e saúde Índice
|