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REMÉDIOS SEGUROS
Se há um mercado no qual a credibilidade do fabricante é vital,
ele é o dos remédios. Médicos e consumidores finais precisam não apenas confiar que o comprimido que
tomam de fato contém o princípio
ativo anunciado na caixa como também que este foi devidamente testado e é seguro dentro das limitações
descritas na bula. Essa confiança, para a qual também concorrem as
agências de farmacovigilância, é fundamental para o mercado.
Nesse contexto, é preocupante que
alguns dos maiores laboratórios do
mundo estejam sabotando a recente
iniciativa do próprio setor de criar
uma base pública de dados para a divulgação de ensaios clínicos (testes
com medicamentos) de modo a tornar a relação com médicos e consumidores mais transparente -e, portanto, mais confiável.
De acordo com reportagem do jornal norte-americano "The New York
Times", alguns dos gigantes do mercado - incluindo Merck, GlaxoSmithKline e Pfizer- estão escamoteando o espírito do acordo ao registrar as pesquisas sem nem ao menos
fornecer o nome da droga em estudo. Com o estratagema, não ficam
obrigadas a revelar os resultados finais caso sejam desfavoráveis ao produto. Outros laboratórios, porém,
estão cumprindo à risca o acerto, o
que prova que ele é factível.
Nunca é demais recordar que a publicação de todos os trabalhos executados com as drogas é um imperativo. O que está em jogo, afinal, é a
saúde pública. Não é aceitável que se
coloque em risco a vida de consumidores que confiaram na indústria para preservar um segredo comercial.
Uma vez que a sempre preferível estratégia da auto-regulamentação parece estar falhando, é o caso de considerar outras medidas. Editores de
periódicos científicos já cogitam de
boicotar a publicação de trabalhos
que não tenham cumprido todas as
exigências de transparência.
Dada a relutância, talvez a arma
mais efetiva seja a aprovação de uma
lei, pelo Congresso dos EUA (que
são o maior mercado do mundo),
que torne a divulgação das pesquisas
obrigatória. Já existe um projeto de
lei tramitando no Senado.
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