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CLÓVIS ROSSI
Depois da paixão
ROMA - Para quem acompanhou
as eleições na França, na Espanha e
na Itália, as mais importantes da
Europa nos últimos 12 meses, fica
difícil discordar de Lluís Bassets,
colunista do jornal espanhol "El
País", quando escreve: "Enquanto a
paixão política parece desertar de
um continente europeu direitizado
e envelhecido, as longas eleições
presidenciais norte-americanas estão dando nova vida à sua democracia e levantam de novo a paixão política entre seus cidadãos".
Desnecessário dizer que a responsabilidade principal por essa
gostosa situação é de Barack Obama. Mas, a partir da constatação
acima, começam os problemas. Por
enquanto, Obama é um bonito discurso e o redescobrir da paixão. Talvez até bastem para ganhar a eleição. Mas, para governar, discurso e
paixão são importantes, mas não
são suficientes.
É preciso mais que isso para
"construir uma economia que não
premie apenas os ricos" ou para
"acabar com o nosso [deles, norte-americanos] vício no petróleo dos
ditadores".
Promessas como essas ou parecidas enfeitaram discursos de todos
os candidatos, em todas as democracias do mundo.
E como ficou? Com 832 milhões
de pessoas passando fome e mais
1,2 bilhão correndo risco semelhante. Pior: sem que a comunidade internacional, sintetizada nas Nações
Unidas e em seus muitos braços,
consiga dar uma resposta, mínima
que seja. O fracasso redondo da Cúpula sobre Segurança Alimentar,
encerrada ontem em Roma, é emblemático da impotência dos governantes ante essa "economia que
premia os ricos" e se rende ao "petróleo dos ditadores".
Estou velho demais para acreditar em discursos. Mas, se há alguma
chance de reequilibrar o jogo entre
Estados e mercados, ela inexoravelmente passa pelos Estados Unidos.
Ou não haverá.
crossi@uol.com.br
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