São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Depois da paixão

ROMA - Para quem acompanhou as eleições na França, na Espanha e na Itália, as mais importantes da Europa nos últimos 12 meses, fica difícil discordar de Lluís Bassets, colunista do jornal espanhol "El País", quando escreve: "Enquanto a paixão política parece desertar de um continente europeu direitizado e envelhecido, as longas eleições presidenciais norte-americanas estão dando nova vida à sua democracia e levantam de novo a paixão política entre seus cidadãos".
Desnecessário dizer que a responsabilidade principal por essa gostosa situação é de Barack Obama. Mas, a partir da constatação acima, começam os problemas. Por enquanto, Obama é um bonito discurso e o redescobrir da paixão. Talvez até bastem para ganhar a eleição. Mas, para governar, discurso e paixão são importantes, mas não são suficientes.
É preciso mais que isso para "construir uma economia que não premie apenas os ricos" ou para "acabar com o nosso [deles, norte-americanos] vício no petróleo dos ditadores".
Promessas como essas ou parecidas enfeitaram discursos de todos os candidatos, em todas as democracias do mundo.
E como ficou? Com 832 milhões de pessoas passando fome e mais 1,2 bilhão correndo risco semelhante. Pior: sem que a comunidade internacional, sintetizada nas Nações Unidas e em seus muitos braços, consiga dar uma resposta, mínima que seja. O fracasso redondo da Cúpula sobre Segurança Alimentar, encerrada ontem em Roma, é emblemático da impotência dos governantes ante essa "economia que premia os ricos" e se rende ao "petróleo dos ditadores".
Estou velho demais para acreditar em discursos. Mas, se há alguma chance de reequilibrar o jogo entre Estados e mercados, ela inexoravelmente passa pelos Estados Unidos. Ou não haverá.

crossi@uol.com.br


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