São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

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EMÍLIO ODEBRECHT

Tragédias anunciadas

A temporada de chuvas deste ano parece não ter fim. Ainda há poucas semanas chegavam notícias de Santa Catarina, mais uma vez trágicas: inundações, desabamentos, desabrigados, mortes.
Esta série de infortúnios começou em São Paulo, depois foi a vez do Rio de Janeiro. Na sequência vieram Salvador, Belo Horizonte, agora Florianópolis e outras importantes cidades catarinenses. O sentimento geral é de tristeza, mas precisamos ir além, porque são tragédias anunciadas, que se repetem ano após ano.
Sabemos que fenômenos climáticos extremos estão se tornando recorrentes em todas as partes do mundo. No Brasil, as chuvas vêm caindo de forma cada vez mais intensa e com uma frequência também muito maior. No próximo verão não será diferente.
Sabemos também que a ocupação irregular de áreas inadequadas para moradia é fruto da pobreza que grassa nas grandes cidades. Às vezes acontece lentamente, às vezes, da noite para o dia, mas o fato é que, quando as autoridades se dão conta, bairros inteiros foram construídos em encostas de morros, várzeas de rios ou até sobre a terra insalubre de antigos lixões.
Em vários dos episódios desta temporada vimos governos estaduais e municipais se manifestando com firmeza e determinação quanto às providências necessárias.
É exatamente isso o que se espera de autoridades que assumem a responsabilidade que a população, através do voto, lhes delegou e não se deixam levar pelo fatalismo de que nas grandes metrópoles temos que conviver com problemas para os quais não há solução.
Vamos aproveitar essa pequena trégua para tomar decisões com coragem -porque, quando voltar a chover, tais comunidades sofrerão novamente com os deslizamentos, com as águas inundando suas casas, com a perda de seus poucos bens.
Entendo que as prioridades sejam a remoção de moradores de áreas de risco; o reflorestamento de encostas de morros e margens de rios; a proibição irredutível de que tais locais sejam ou voltem a ser ocupados; e a fiscalização rigorosa para que as leis de uso do solo urbano sejam respeitadas, cabendo ao Estado amparar as famílias que não têm para onde ir.
Nada de novo, portanto, mas o suficiente para que não tenhamos que lamentar novas perdas de vidas a cada estação chuvosa. Fundamental é o sentido de urgência. Já a população que vota não deve esquecer que estamos a quatro meses de outubro.

EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.

emilioodebrecht@uol.com.br


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