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EMÍLIO ODEBRECHT
Tragédias anunciadas
A temporada de chuvas
deste ano parece não ter fim.
Ainda há poucas semanas
chegavam notícias de Santa
Catarina, mais uma vez trágicas: inundações, desabamentos, desabrigados, mortes.
Esta série de infortúnios começou em São Paulo, depois
foi a vez do Rio de Janeiro. Na
sequência vieram Salvador,
Belo Horizonte, agora Florianópolis e outras importantes
cidades catarinenses.
O sentimento geral é de tristeza, mas precisamos ir além,
porque são tragédias anunciadas, que se repetem ano após
ano.
Sabemos que fenômenos
climáticos extremos estão se
tornando recorrentes em todas as partes do mundo. No
Brasil, as chuvas vêm caindo
de forma cada vez mais intensa e com uma frequência também muito maior. No próximo
verão não será diferente.
Sabemos também que a
ocupação irregular de áreas
inadequadas para moradia é
fruto da pobreza que grassa
nas grandes cidades. Às vezes
acontece lentamente, às vezes, da noite para o dia, mas o
fato é que, quando as autoridades se dão conta, bairros inteiros foram construídos em
encostas de morros, várzeas
de rios ou até sobre a terra insalubre de antigos lixões.
Em vários dos episódios
desta temporada vimos governos estaduais e municipais se
manifestando com firmeza e
determinação quanto às providências necessárias.
É exatamente isso o que se
espera de autoridades que assumem a responsabilidade
que a população, através do
voto, lhes delegou e não se
deixam levar pelo fatalismo de
que nas grandes metrópoles
temos que conviver com problemas para os quais não há
solução.
Vamos aproveitar essa pequena trégua para tomar decisões com coragem -porque,
quando voltar a chover, tais
comunidades sofrerão novamente com os deslizamentos,
com as águas inundando suas
casas, com a perda de seus
poucos bens.
Entendo que as prioridades
sejam a remoção de moradores de áreas de risco; o reflorestamento de encostas de
morros e margens de rios; a
proibição irredutível de que
tais locais sejam ou voltem a
ser ocupados; e a fiscalização
rigorosa para que as leis de
uso do solo urbano sejam respeitadas, cabendo ao Estado
amparar as famílias que não
têm para onde ir.
Nada de novo, portanto,
mas o suficiente para que não
tenhamos que lamentar novas
perdas de vidas a cada estação
chuvosa. Fundamental é o
sentido de urgência. Já a população que vota não deve esquecer que estamos a quatro
meses de outubro.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos
nesta coluna.
emilioodebrecht@uol.com.br
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