São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004

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INGREDIENTE NOVO

A eleição presidencial norte-americana deverá trazer uma novidade neste ano: o peso da política externa no pleito tende a crescer. O americano médio é pouco afeito a questões internacionais. Historicamente, os EUA tenderam ao isolacionismo político. Os períodos de exceção praticamente confirmam a regra, pois ocorreram quando não havia hipótese de Washington deixar de envolver-se nas lides mundiais. Foram épocas como a Segunda Guerra Mundial e os momentos mais agudos da Guerra Fria.
A prevalecer a avaliação dos especialistas, a atual campanha será a mais "internacionalizada" desde a reeleição de Ronald Reagan, em 1984. Era o final da contenda com a União Soviética. Desta vez, o contexto é o da "guerra contra o terror", mais particularmente as campanhas do Afeganistão e, principalmente, do Iraque. O saldo destas duas não é favorável ao presidente George W. Bush, que disputa o segundo mandato com o democrata John Kerry.
Bush tem a seu favor uma economia que cresce há dez trimestres. Em situações normais, isso bastaria para reelegê-lo. Só que nada na Presidência de Bush foi normal, a começar do contestado pleito que o levou à Casa Branca. Depois vieram os atentados do 11 de Setembro e as intervenções militares no Afeganistão e no Iraque.
A rápida vitória sobre Saddam Hussein levou os "falcões" que cercam o presidente à euforia, mas a alegria belicista não durou muito. Logo ficou claro que as armas de destruição em massa usadas como pretexto para a guerra não existiam. A forte resistência iraquiana que se formou após a queda do regime já custou a vida a centenas de militares norte-americanos e escancara os erros de estratégia da Casa Branca. Depois ainda veio o escândalo das imagens de soldados americanos torturando iraquianos na prisão de Abu Ghraib.
Tudo isso, como é evidente, vai solapando o prestígio interno de Bush, que já tentou vender a política externa como ponto forte de seu governo. Embora o presidente concorra com boas chances, estão distantes os tempos em que seus índices de aprovação chegavam aos 90%.


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