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CLÓVIS ROSSI
Apenas um pobre show
SÃO PAULO - No ano em que as eleições para as prefeituras de capitais
voltaram a ser diretas (1985), parecia
até engraçada a foto de Janio Quadros, o candidato que afinal venceria, posando como samurai, na habitual visita ao bairro japonês de São
Paulo.
Quase 20 anos depois, é apenas ridícula a foto de Paulo Maluf na visita
ao mesmo bairro -vestido de "sushiman". Ou porque Janio era histriônico, ao passo que Maluf não tem a
menor graça, ou porque cansei desses
joguinhos tolos de cena.
Será que alguém ganha um voto,
um mísero voto que seja, pagando esse tipo de mico em campanha?
Alguém acha mesmo que, se José
Serra não fosse candidato, iria a uma
festa junina no campo do Juventus?
Nem o professor Pasquale, o único juventino que conheço, acredita.
Que eleição seja um show, vá lá.
Mas um pouco mais de qualidade
não viria mal.
Se Marta Suplicy não fosse candidata e, por extensão, se mantivesse a
franqueza de seus tempos de televisão, não ouviria calada a frase do
pastor da Igreja Universal, segundo
quem "a nossa prefeita tem sido um
instrumento que Deus usa para
abençoar os locais mais carentes".
Mais: "Temos visto Deus operar pelas
mãos dela".
A velha e boa Marta diria que Deus
não tem nada a ver com isso. Já a nova Marta, política de carteirinha, é
capaz até de acreditar que é apenas
um "cavalo" de Deus para redimir
pobres e oprimidos.
No caso de Marta, ainda há uma
atenuante: hipnotizados pela pregação da Igreja Universal, é possível
que um ou outro fiel vote mesmo nela
por ser "instrumento de Deus".
Mas vale conseguir um votinho ou
meia dúzia deles à custa da avacalhação da atividade política?
Às vezes, gostaria de ter o habeas
corpus do psicólogo norte-americano
Justin Frank para dizer sobre tantos
políticos brasileiros o que ele disse sobre George W. Bush, em livro e em
entrevista à Folha.
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