São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Apenas um pobre show

SÃO PAULO - No ano em que as eleições para as prefeituras de capitais voltaram a ser diretas (1985), parecia até engraçada a foto de Janio Quadros, o candidato que afinal venceria, posando como samurai, na habitual visita ao bairro japonês de São Paulo.
Quase 20 anos depois, é apenas ridícula a foto de Paulo Maluf na visita ao mesmo bairro -vestido de "sushiman". Ou porque Janio era histriônico, ao passo que Maluf não tem a menor graça, ou porque cansei desses joguinhos tolos de cena.
Será que alguém ganha um voto, um mísero voto que seja, pagando esse tipo de mico em campanha?
Alguém acha mesmo que, se José Serra não fosse candidato, iria a uma festa junina no campo do Juventus? Nem o professor Pasquale, o único juventino que conheço, acredita.
Que eleição seja um show, vá lá. Mas um pouco mais de qualidade não viria mal.
Se Marta Suplicy não fosse candidata e, por extensão, se mantivesse a franqueza de seus tempos de televisão, não ouviria calada a frase do pastor da Igreja Universal, segundo quem "a nossa prefeita tem sido um instrumento que Deus usa para abençoar os locais mais carentes". Mais: "Temos visto Deus operar pelas mãos dela".
A velha e boa Marta diria que Deus não tem nada a ver com isso. Já a nova Marta, política de carteirinha, é capaz até de acreditar que é apenas um "cavalo" de Deus para redimir pobres e oprimidos.
No caso de Marta, ainda há uma atenuante: hipnotizados pela pregação da Igreja Universal, é possível que um ou outro fiel vote mesmo nela por ser "instrumento de Deus".
Mas vale conseguir um votinho ou meia dúzia deles à custa da avacalhação da atividade política?
Às vezes, gostaria de ter o habeas corpus do psicólogo norte-americano Justin Frank para dizer sobre tantos políticos brasileiros o que ele disse sobre George W. Bush, em livro e em entrevista à Folha.


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