São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

"Conjunto da obra"

BRASÍLIA - Imagine você o que o PT diria de um governo que:
1 - Recorresse a um parecer da Advocacia Geral da União para driblar a lei eleitoral e sair distribuindo verbas para Estados e municípios nos três meses que antecedem as eleições? Seria um escândalo!
2 - Usasse a liberação de verbas do Orçamento para favorecer os deputados e senadores da base aliada que fossem candidatos a prefeitos? E se a proporção fosse de 45,8% dos R$ 120 milhões pedidos pelos aliados contra apenas 1,9% dos R$ 27 milhões desejados pelos candidatos oposicionistas? Seria um escândalo!
3 - Empurrasse com a barriga a votação pelo Congresso de uma lei prevendo a expropriação de terras onde houvesse trabalho escravo e sua destinação para a reforma agrária? Seria um escândalo!
4 - Vivesse reclamando da perseguição da imprensa e do Ministério Público, a ponto de defender a "lei da mordaça"? Ih! Seria um escândalo!
O que tem a dizer o governo do PT?
Ontem, ao reunir os ministros, líderes governistas e presidentes de estatais, Lula disse que poucas vezes na história republicana um governo foi tão cobrado quanto o seu.
Em tom humilde, de volta ao "paz e amor" da campanha, ele ensinou à equipe que ninguém deve ficar chateado com as críticas nem feliz com os elogios. E, indiretamente, recriminou a arrogância e a beligerância: "A arte de governar é a arte de ter paciência". (Viu, José Dirceu? Viu, Marta Suplicy?)
Lá pelas tantas, o presidente lembrou que isso "é bom para a democracia" e admitiu: "As pessoas estão cobrando de nós o que nós cobramos dos outros". É verdade.
A democracia é isso mesmo: ele cobrava, tu cobravas, nós cobramos, eles cobram. Só não dá para Lula e Dirceu apontarem os "escândalos" de tudo e de todos e se sentirem no direito de fazer o que bem entendem agora que são governo -e autores dos novos "escândalos".
Justamente por isso, é legítimo perguntar: e o PT, o que diz sobre o governo do PT?


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