|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Lavagem cerebral
RIO DE JANEIRO - Ao terminar a Segunda Guerra Mundial, sabia-se que
Hitler não se entregaria vivo aos aliados. A Albert Speer, que foi fiel ao ditador até o fim, ele confessara sua
vontade de se suicidar, dizendo que
não seria preso para ser exibido,
mundo afora, numa jaula, como um
animal derrotado.
Embora haja versões em contrário,
inclusive de uma mirabolante fuga, o
certo é que Hitler parece que preferiu
a morte, não dando aos inimigos o
gostinho da humilhação pessoal que,
aliás, ele bem merecia.
Temos agora o caso de Saddam
Hussein, prisioneiro dos Estados Unidos, em início de julgamento pelos
crimes que cometeu. Que o ditador
iraquiano fez poucas e boas, fez. Do
ponto de vista do povo iraquiano, ele
merece qualquer tipo de pena, pois
pintou e bordou durante anos, não
merecendo clemência, muito menos
piedade.
Contudo, a pinimba dos Estados
Unidos com ele tampouco merece
respeito da consciência universal.
Bush acusou-o de crimes e de intenções que não foram provadas, pelo
contrário, foram desmentidas pelos
próprios serviços de inteligência dos
Estados Unidos.
Com a faca e o queijo na mão, seria
fácil para a dupla Bush-Blair provar
as relações de Saddam Hussein com
Bin Laden, a existência de armas de
destruição em massa, a ameaça que
ele representava para a civilização
ocidental.
E há um detalhe sórdido neste julgamento de um prisioneiro de guerra. Ele está servindo de munição eleitoral para a campanha da reeleição
de Bush, inteiramente atolado pelas
suas mentiras a respeito da guerra do
Iraque. Sofrendo uma lavagem cerebral, negociando a própria vida por
uma confissão macetada, Saddam
poderá admitir não apenas os crimes
que praticou mas os que não praticou, por falta de tempo, de recursos
ou de tecnologia. Com isso, transformará o presidente norte-americano
num salvador da civilização e da paz
universal.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: "Conjunto da obra" Próximo Texto: Roberto Mangabeira Unger: Voz ainda inaudível Índice
|