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ELIANE CANTANHÊDE
Salvador do mundo?
BRASÍLIA - Planalto e Itamaraty
estavam tão eufóricos com a vitória
espetacular de Barack Obama que
nem se preocuparam com uma praxe: elogiar o presidente que sai.
Ninguém tocou no nome de Bush.
O que houve foi uma enxurrada
de adjetivos para enaltecer a chegada de um negro à Presidência da
maior potência do mundo, com
uma bela biografia, um bom currículo escolar e cheio de boas intenções. A principal delas não é modesta: criar uma nova ordem internacional, com menos arrogância e
mais parcerias. Isso interessa ao
Brasil, emergente que se auto-intitula líder da América Latina.
Obama é eleito lá e já apresentamos cá uma extensa pauta para ele:
reatamento com Cuba, solução para o Oriente Médio, maior presença
na África, fortalecimento da ONU,
maior relação com a América Latina, retomada da agenda do clima,
reativação da Rodada Doha de comércio... Ops! Antes de salvador da
humanidade, Obama precisa ser
salvador da pátria.
Ao assumir, em janeiro, vai dar de
cara com uma crise gigantesca e
com os indicadores norte-americanos destrambelhados na área fiscal
e início de recessão. Vai ter muito
trabalho para arrumar a própria casa antes de pensar no mundo.
Para isso, conta com fatores objetivos e subjetivos. Obama assume
em 20 de janeiro com uma votação
extraordinária (contrariando a tradição de eleições apertadas, vide
Bush), com ampla maioria democrata no Senado e na Câmara (contrariando o pêndulo Democrata-Republicano na Casa Branca e no
Congresso) e com enorme boa vontade internacional. Isso ajuda principalmente na hora de pedir "sacrifício", como já pediu.
As condições objetivas, portanto,
são favoráveis. E há o fator subjetivo: a sorte. A própria crise, aguda na
campanha, tende a amenizar até a
posse. Só falta agora o mito da campanha estar à altura de ser presidente da maior potência -e com a
economia de pernas para o ar.
elianec@uol.com.br
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