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CESAR MAIA
1932: ontem e hoje!
Em 1932, Mussolini destacava-se como único líder, chefe
de governo de expressão no
mundo ocidental. Com formação teórica muito acima da
média, poliglota, leitor de filósofos e de grandes escritores,
conhecedor de historia, impressionou Emil Ludwig, escritor alemão, biógrafo de Bismarck, Napoleão e Goethe.
Mussolini deu absoluta privacidade, dez tardes seguidas
em seu gabinete, para uma entrevista com Ludwig. Esta foi
publicada e se transformou
em livro logo em seguida: "Colóquios com Mussolini".
Ludwig explora os conceitos do entrevistado -liderança, governo, autoridade, nacionalismo, poder, países, história, artes, atributos do líder,
Estado... Mussolini passou a
ser referência para outros líderes políticos. Salazar mantinha seu busto na mesa de trabalho. Getúlio usou na "Constituição" de 1937 o conceito de
Parlamento corporativo num
governo autoritário. Mussolini
mitificava a ação, mas refletia
e cristalizava seus conceitos.
Esses, difundidos, formaram e formam gerações de lideranças populistas-autoritárias, com ou sem consciência
da escola de influências que
receberam. Com a ascensão
do populismo autoritário na
América Latina, cumpre ir a
essas raízes, até para que esses saibam de que fonte vem a
água que bebem.
Diz Mussolini que, "para
governar as massas, temos
que usar duas rédeas: o entusiasmo e o interesse. Confiar
em uma só é estar em perigo. O
lado místico e o lado político
estão subordinados um ao outro. Este sem aquele se torna
árido. Aquele sem este se desfolha ao vento das bandeiras".
Numa afirmação, desnuda
a base do populismo: "A massa não deve saber, mas crer. Só
a fé remove montanhas. O raciocínio não. Este é um instrumento, mas jamais motor da
multidão". Sobre sua relação
direta com as massas, diz:
"Deve-se dominar as massas
como um artista domina sua
arte". E ensina: "Deve-se ir do
místico ao político, da epopeia
à prosa".
É nessa entrevista que Mussolini usa uma frase que marcou seu machismo: "A multidão adora homens fortes.
A multidão é feminina". Ludwig, vendo sua chegada ao
balcão de seu gabinete no palácio Veneza para saudar a
multidão, comenta: "No balcão, olhando as massas, ele
tem o ar de autor dramático,
que chega ao teatro e vê os atores impacientes para o ensaio". Mussolini segue: "Cumpre tirar dos altares sua santidade, o povo. A multidão não
revela segredos. Quando não é
organizada, a massa é um rebanho de ovelhas. Nego que
ela possa se reger por si só".
Ludwig registra o que ele
ensina e que deveria servir ao
mesmo Mussolini e a tantos
outros, especialmente os de
aqui e agora: "Veja só o que
Brunsen disse de Bismarck:
'Tornou a Alemanha grande e
os alemães pequenos'".
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta
coluna.
cesar.maia@uol.com.br
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