BRASÍLIA - No final dos anos 80, todos os principais líderes sindicais ligados ao PT apoiavam Jair Meneguelli para uma nova presidência da CUT. Lula, em desabalada ascensão, ouvia calado, fingia não interferir. Até que, na última hora, bateu o martelo: "O candidato vai ser o Vicentinho". Ninguém se rebelou. Ou melhor: ninguém sequer questionou.
Hoje, a disputa é pelo governo de São Paulo, com a ex-prefeita Marta Suplicy consolidando apoios na capital e buscando reforço no interior e o senador Aloizio Mercadante fazendo o contrário: consolidando o apoio de prefeitos e buscando o da capital.
Lula ouve um num dia e o outro no outro, fingindo que não é com ele. Na verdade, está assuntando, testando, olhando as pesquisas, para dar a palavra final na hora "H".
Dizem que seu coração e sua razão pendem para Mercadante, o recordista de votos para o Senado em 2002 (7,2 milhões), que já teve o voto, bastante alardeado, do antes chamado "núcleo duro": Lula, Dirceu, Palocci, Genoino, Gushiken, Dulci.
Agora, nem convém a Lula e ao Planalto endossar nenhuma das duas candidaturas, nem convém a Mercadante lembrar que um cassado, um suspeito, um recolhido e um afastado o apóiam, ou apoiavam. É melhor deixar isso pra lá, deixar o dito pelo não dito e esperar que as coisas (ou as pesquisas) decantem. Até Lula ter condições de bater o martelo.
As prévias petistas em São Paulo serão em 7 de maio e, até lá, ficará claro: 1) quem tem mais força eleitoral, se Marta ou se Mercadante; 2) qual o cacife do próprio Lula no partido -como candidato à reeleição e também como o grande eleitor do PT paulista. Frisando-se, claro, que o Lula de hoje não é o Lula do ABC.
Enquanto o PT tem dois candidatos prontos a se matarem, os tucanos não têm nenhum. A um ano das eleições, difícil dizer o que é pior.
A única certeza é que Marta e Mercadante estão se digladiando como Serra e Alckmin. E essas coisas costumam deixar profundas cicatrizes.

@ - elianec@uol.com.br


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