São Paulo, terça-feira, 06 de dezembro de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Piloto automático

RIO DE JANEIRO - "O Brasil está crescendo dentro de suas possibilidades". A frase não é do conselheiro Acácio, que deu o tom e o conteúdo dos pronunciamentos de FHC durante os oito anos de seu mandato. Não creio que Lula saiba quem foi o conselheiro, mas não importa. O fato é que, mediunicamente, deixou que o personagem de Eça de Queiroz baixasse na atual crise que ele atravessa, crise que o deixa chateado.
Quanto ao crescimento do Brasil, que sempre cresceu dentro de suas possibilidades, tudo fica nos conformes. Acontece que Lula e o PT prometiam fazer o país crescer além de suas possibilidades e quebraram a cara.
Caminhando no tamanho de suas pernas, Lula também se declara chateado com e por tudo o que está acontecendo. Já lembrei, em crônica passada, aquele diálogo fictício entre um presidente dos Estados Unidos e o premiê da União Soviética. Um bombardeiro norte-americano desgarra-se dos comandos oficiais, dirige-se a Moscou a fim de lançar uma bomba atômica em cima dos russos.
O presidente dos Estados Unidos, alarmado, pega o telefone vermelho, ligado diretamente ao Kremlin, para comunicar a emergência ao premiê soviético. Com voz pesarosa, humilde, diz que "lamenta" o incidente. O premiê responde indignado: "Eu lamento muito mais do que você!".
É isso aí. Lula se declara chateado com tudo o que está acontecendo. Nós também. Não é para fazer campeonato de chateação, mas estamos muito mais chateados do que ele. Embora não tenha votado nele -não votei em ninguém nos últimos 20 anos-, eu acreditava na maioria, que dele esperava alguma coisa além das possibilidades nacionais: justiça social, moralidade, crescimento econômico etc.
Para fazer o Brasil crescer dentro de suas possibilidades, qualquer um servia. Bastava ligar no piloto automático sem necessidade de campanha eleitoral e dos préstimos do Marcos Valério.


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