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VINICIUS MOTA
A pequena transformação
SÃO PAULO - A notícia da capotagem da indústria em novembro sela
o destino da taxa Selic. Apenas um
torpedo inesperado da inflação ou
do dólar impedirá o Banco Central
de reduzir a meta para os juros de
curto prazo no próximo dia 21.
É irrelevante saber se a redução
será de 0,25 ponto percentual ou o
dobro disso. Essa escala só é importante em países com taxas normais.
Faz cócegas nos 13,75% ao ano fixados aqui. Já se os diretores do BC
decidirem "surpreender as expectativas otimistas" e abater, vá lá, 1
ou 1,5 ponto, a conversa será outra.
Vamos ver se Lula controla a si
próprio e a gente do governo que
gosta de tirar lasca do time de Henrique Meirelles nessas ocasiões. Recados do tipo "Lula pressiona BC a
cortar Selic" são um tiro no pé que o
Planalto sempre dispara.
Gasta-se muito latim com as "divergências" dentro do governo, mas
pouco se nota que a política econômica, em várias frentes, vai convergindo para uma configuração um
pouco diversa da que prevalecia até
aqui. Não há uma cabeça por trás
dessa ligeira transição; ela é mais a
resultante de atitudes dispersas, tomadas no calor da crise global.
O BC já havia relaxado a política
monetária nas ações, bem-sucedidas, para evitar a quebra de bancos
menores. Concordou, além disso,
com usos um tanto extravagantes
das reservas em dólar. A capacidade
e a disposição dos bancos estatais
para emprestar foram ampliadas,
com repercussões fiscais incertas.
Por falar em repercussão fiscal,
uma série de ações do governo -renúncias de tributos e de dividendos
de estatais, além da opção por abater menos dívida em 2008 e transferir gastos para 2009- mina a capacidade do setor público de continuar reduzindo seu endividamento
e de cumprir o superávit fiscal.
O que há poucos meses provocaria uma gritaria medonha nos chamados "mercados", agora passa como se fosse tão natural, e desejável,
como o ar. Sinal dos tempos.
vinicius.mota@grupofolha.com.br
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