São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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VINICIUS MOTA

A pequena transformação

SÃO PAULO - A notícia da capotagem da indústria em novembro sela o destino da taxa Selic. Apenas um torpedo inesperado da inflação ou do dólar impedirá o Banco Central de reduzir a meta para os juros de curto prazo no próximo dia 21.
É irrelevante saber se a redução será de 0,25 ponto percentual ou o dobro disso. Essa escala só é importante em países com taxas normais.
Faz cócegas nos 13,75% ao ano fixados aqui. Já se os diretores do BC decidirem "surpreender as expectativas otimistas" e abater, vá lá, 1 ou 1,5 ponto, a conversa será outra.
Vamos ver se Lula controla a si próprio e a gente do governo que gosta de tirar lasca do time de Henrique Meirelles nessas ocasiões. Recados do tipo "Lula pressiona BC a cortar Selic" são um tiro no pé que o Planalto sempre dispara.
Gasta-se muito latim com as "divergências" dentro do governo, mas pouco se nota que a política econômica, em várias frentes, vai convergindo para uma configuração um pouco diversa da que prevalecia até aqui. Não há uma cabeça por trás dessa ligeira transição; ela é mais a resultante de atitudes dispersas, tomadas no calor da crise global.
O BC já havia relaxado a política monetária nas ações, bem-sucedidas, para evitar a quebra de bancos menores. Concordou, além disso, com usos um tanto extravagantes das reservas em dólar. A capacidade e a disposição dos bancos estatais para emprestar foram ampliadas, com repercussões fiscais incertas.
Por falar em repercussão fiscal, uma série de ações do governo -renúncias de tributos e de dividendos de estatais, além da opção por abater menos dívida em 2008 e transferir gastos para 2009- mina a capacidade do setor público de continuar reduzindo seu endividamento e de cumprir o superávit fiscal.
O que há poucos meses provocaria uma gritaria medonha nos chamados "mercados", agora passa como se fosse tão natural, e desejável, como o ar. Sinal dos tempos.

vinicius.mota@grupofolha.com.br


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