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CLÓVIS ROSSI
O foguete Brasil caiu em Angra
SÃO PAULO - O foguete Brasil de
recente capa da "Economist" acabou caindo em Angra dos Reis, para
citar apenas a cidade mais explorada pela televisão nas enchentes do
verão que mal começou.
Ficou evidente, se ainda fosse
preciso, que o Brasil é um país colossalmente subdesenvolvido, vítima do que Janio de Freitas, na terça-feira, chamou de "urbanismo
criminoso, que tantos administradores públicos têm praticado por
tão longo tempo, com a permissão
para o crescimento de favelas (formas de degradação da vida urbana)
e para a especulação imobiliária (como degradação também da natureza)".
Vai ser difícil encontrar outra
descrição tão apta do subdesenvolvimento em tão poucas linhas. Certamente não será encontrada na
"Economist", que está preocupada
com a emergência do mercado brasileiro, não do país.
Subdesenvolvimento não é obra
de apenas um governo ou de apenas
alguns anos. E o "urbanismo criminoso" descrito por Janio de Freitas
é só uma de suas características
centrais. Permanece o descuido,
também criminoso, com educação,
saúde e segurança pública, para ficar em apenas três das chagas abertas na pele do país.
Como permanece intocada a obscena desigualdade social, ainda que
alguns acadêmicos, o jornalismo
chapa-branca ou descuidado e a
propaganda governamental façam circular a lenda de sua queda.
Ah, por falar em desigualdade, alguém aí prestou atenção na cor das
vítimas das inundações? A esmagadora maioria era formada por pretos, pardos, cafuzos, não-brancos,
salvo no Rio Grande do Sul. Exceto
alguns turistas que estavam no lugar errado na hora errada e, por isso
mesmo, viraram notícia. Preto e pobre vítima da combinação do subdesenvolvimento com excessos da
natureza é rotina. É aquele imenso
pedaço do Brasil que nunca emerge,
mas vira e mexe submerge.
crossi@uol.com.br
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