São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2009

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CLÓVIS ROSSI

De imóveis e patins

SÃO PAULO - Alguma coisa não fecha na história da crise. No mesmo dia em que se anuncia que a Mercedes Benz está dando férias coletivas para todos os trabalhadores das linhas de produção de caminhões e ônibus em São Bernardo do Campo, medida que afeta 7.000 funcionários, a cada vez mais imperdível coluna de Guilherme Barros, a "Mercado Aberto", informa o seguinte: "A Caixa Econômica Federal bateu um novo recorde de financiamento habitacional no mês de janeiro. O banco firmou 45.975 contratos de crédito imobiliário no período, que somaram R$ 1,91 bilhão -crescimento de 155% em relação ao mesmo período do ano passado (...) e o melhor janeiro da história da Caixa Econômica".
Quer dizer que não há demanda para caminhões e ônibus mas há demanda -e violenta, inédita- para imóveis que custam bem mais que veículos? Quem explica? Que houvesse demanda por liquidificador, ferro elétrico, até automóvel (voltaram as filas, lembra-se?), ainda vá lá. Mas imóvel é algo de que a turma só vai atrás quando tem confiança em que: 1) vai continuar empregado; 2) sua renda não vai sofrer uma erosão violenta, o que significa que acredita que conseguirá pagar o financiamento. A menos, claro, que o Brasil esteja inaugurando o seu próprio esquema "subprime", aqueles financiamentos no escuro que acabaram sendo o estopim da crise global.
Outro dia escrevi que não havia espaço para relatar esquisitices também na Europa. É hora de contar uma delas: como fez um frio do cão na Europa em janeiro, lagos e canais holandeses congelaram, abrindo inesperadas "pistas de patinação". O que fizeram os holandeses? Gastaram 80 milhões para comprar patins novos. De novo, liquidificador, eu entendo, mas patim novo no meio de uma crise inédita, que me expliquem por favor.

crossi@uol.com.br


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