São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Perdido por um, perdido por mil

BRASÍLIA - Não bastasse José Dirceu estar tão flagrantemente enfraquecido, vem o PT (o PT!) atirar contra Palocci. Está tudo errado. Ou é burrice, ou masoquismo, ou má-fé. O PT trabalha contra o governo, justamente no seu momento mais difícil.
Ao lançar documento cobrando mudanças na economia, o que a Executiva Nacional do partido consegue é ampliar a crise política para o todo. Não sobra pedra sobre pedra.
O Lula das metáforas agora entra mudo e sai calado, seja da Venezuela, seja de encontros casuais da rotina do Planalto, seja das solenidades. Aliás, que solenidades? Aquela profusão de cerimônias, discursos, improvisos e cumprimentos parece ser coisa do passado. De antes da sexta-feira, 13 de fevereiro, que revelou Waldomiro Diniz para o país.
Dirceu, o poderoso, mal foi nomeado por Lula chefe dos ministros, da administração e dos programas do governo. Mas anda sem tempo para assumir as novas funções. Só cuida da operação política, que deveria caber ao novo ministro Aldo Rebelo. Pior: para evitar CPIs e tratar de salvar a própria pele do tiroteio dos aliados, principalmente do PT.
Agora, vem o partido atacar a única coisa que parecia impermeável à crise, que era Palocci, em dupla com Luiz Gushiken. Sabe-se lá como os mercados vão abrir amanhã. E sabe-se lá como os investidores internacionais estão vendo tudo isso.
Quando estourou a crise, Dirceu avisou a Palocci e a Gushiken que dispensava manifestações de solidariedade e pediu distância: "Deixa que eu seguro, vocês não podem se contaminar". Eles atenderam direitinho. E o núcleo duro já era.
Aparentemente, a turma política, de José Genoino (presidente do PT) e de João Paulo Cunha (presidente da Câmara), resolveu sair em defesa de Dirceu... atacando Palocci. Com aliados assim, pra que oposição?
Mas ela não está nada parada. Ao contrário, a crise do governo rearticula a oposição. Se o PT vem quente, PFL e PSDB vêm fervendo. No caldeirão, o tão jovem governo Lula.



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