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CLÓVIS ROSSI
Tudo tão normal
SÃO PAULO - Os aeroportos voltaram à normalidade. Normalidade à
brasileira, claro: na quinta-feira,
134 vôos atrasaram e 37 foram cancelados, o que dá 12,5% dos 1.366
programados.
O motim dos controladores virou
o bode na sala. Paralisou todos os
vôos em parte do fim de semana
passado. Retirado o bode da paralisação total, aceita-se como "normal" que haja problemas em mais
de 10% das operações.
É assim o Brasil. A anomalia passa a ser normal.
Congestionamentos monstros,
por exemplo. Nas rádios, dá a sensação de que o repórter do trânsito
anuncia com certo orgulho que foi
batido mais um recorde de congestionamento, como se fôssemos todos uma coleção de Michael Phelps
do asfalto.
A anomalia é tão normal que que
o controlador-geral da República,
Jorge Hage, aceita tranqüilamente
que haja descontrole no uso do dinheiro público que ele deveria controlar, como chefe da Controladoria Geral da União.
Disse o seguinte a Marta Salomon, uma tolinha desta Folha que
não cansa de considerar anomalia
anomalia mesmo, não normalidade: "A CGU vem apontando há tempos problemas no controle, mas
não fazemos cavalo-de-batalha
porque reconhecemos as fragilidades gritantes que os ministérios encontram em termos de falta de pessoal". Note o "há tempos".
Pois é, o controlador não faz "cavalo-de-batalha" mesmo ante a incapacidade de exercer sua função
de controlar gastos públicos. Não é
exemplo acabado de tomar a anomalia como normal?
Dá o seguinte panorama, segundo Ubiratan Aguiar, ministro do
Tribunal de Contas da União: "O
resultado desse modelo ineficiente
traz (...) superfaturamento, obras
inacabadas, atraso na disponibilização de obras à população beneficiária, destinação de recursos a intervenções desnecessárias ou não
prioritárias".
Normal, tudo tão Brasil.
crossi@uol.com.br
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