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ALÍVIO FRANCÊS
Foi com alívio que a maioria dos
franceses recebeu a notícia de
que o presidente Jacques Chirac derrotou o líder da extrema direita Jean-Marie Le Pen no segundo turno das
eleições presidenciais. A vitória foi
esmagadora e não deixa margem a
dúvidas: Chirac, 82%; Le Pen, 18%.
Não parece exagero afirmar que o
pleito se transformou num referendo, em que os franceses reafirmaram
seu compromisso com os valores republicanos. No dia 5 de maio, a
França deu um claro "não" à segregação e ao isolacionismo propugnados por Le Pen e disse "sim" à União
Européia e ao sistema democrático.
Se a derrota de Le Pen representa
uma boa notícia em termos institucionais, o resultado do pleito está
longe de resolver as dificuldades políticas em que a França se enredou.
O presidente Jacques Chirac está na
situação mais insólita de que se tem
notícia na história da França republicana. Assolado por denúncias de
corrupção, Chirac obteve, no primeiro turno, 19,88% dos votos, o pior
desempenho desde 1958 para um
presidente que disputava a reeleição.
No segundo turno, porém, com o
apoio maciço da esquerda e, em menor grau, até da extrema esquerda, o
conservador Chirac ficou com 82%
dos votos, superando com folga o recorde dos 58% de aprovação obtido
por Georges Pompidou em 1969.
Apesar da vitória esmagadora, Chirac é refém de seu próprio sucesso.
Ele não foi eleito por seu desempenho ou por sua plataforma, que lograram votação inexpressiva no primeiro escrutínio, mas apenas por ter
Le Pen como adversário. A rigor, esquerda e extrema esquerda somadas
ficaram com mais votos no primeiro
turno (42,9%) do que a direita republicana (33,7%) da qual Chirac é o
principal representante.
Esquerda e direita francesas voltam
a se enfrentar nas eleições legislativas
nos dias 9 e 16 de junho. Apesar da
eloquente vitória de Chirac no domingo, não há garantias de que as
forças por ele lideradas farão maioria
na Assembléia Nacional. Se a esquerda vencer, Chirac, mesmo tendo
sido reeleito com 82% dos votos, terá
de convidar um opositor para o posto de primeiro-ministro -isto é,
passar por mais um período de coabitação, em que fica com a margem
de manobra política reduzida.
As próximas semanas serão decisivas. Chirac já demonstrou que pretende caminhar para o centro ao nomear Jean-Pierre Raffarin para o posto de premiê. Partidos de esquerda,
por sua vez, estão bastante mobilizados e já começam a falar em unir-se
para o pleito legislativo.
Ocorra o que ocorrer, vai crescendo
na França a convicção de que o sistema político do país seria beneficiado
por uma reforma.
O "não" a Le Pen uniu os franceses,
mas apenas circunstancialmente.
Aliviada e confusa, a França voltará
democraticamente às urnas no mês
que vem para definir seu futuro.
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