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CLÓVIS ROSSI
Sanguessugas é pouco
SÃO PAULO- De todos os nomes
"hollywoodianos" que a Polícia Federal escolhe para suas operações, a
mais recente ("Operação Sanguessuga") parece ter recebido o batismo
mais feliz.
Dá para dizer que o mundo político, com poucas exceções, tornou-se
sanguessuga. Mais até que isso. Sanguessugas são menos vorazes.
O balanço do que se denunciou até
agora, seja na "Sanguessuga", seja no
mensalão, dá conta de duas "organizações criminosas" funcionando,
ambas com raízes fincadas fundo no
mundo político.
É incrível que essa expressão "organização criminosa", tão pesada, mas
tão eloqüente, tenha sido usada por
um delegado da Polícia Federal, cujo
nome não gravei, em entrevista ao
Jornal Nacional na sexta-feira, para
se referir ao pessoal que depenava
ambulâncias entregues às prefeituras, literalmente chupando o sangue
de doentes.
A primeira das "organizações criminosas" denunciada (esta pelo procurador-geral da República) é chefiada pelo PT. A segunda, da qual o PT é
o único grande partido ausente, cobre todos os outros grandes (e até alguns pequenos), da base aliada ou da
oposição.
Não sobrou um, meu irmão.
No fundo, é como ironizou o leitor
Max Camillo, de Nova Lima-MG,
que, tempos atrás, mandou e-mail
com o seguinte recado: "Esse governo
desmoralizou o escândalo!" (o ponto
de exclamação é dele).
Aí, virá um dos meus raros ídolos,
Chico Buarque de Holanda, para dizer que é "preconceito de classe", que
não há "corruptômetro" para dizer
qual governo foi mais corrupto. Não
há mesmo. Mas, em outros tempos,
um caso como o dos sanguessugas
provocaria 516.432 discursos indignados de petistas de Norte a Sul.
Agora, mesmo não estando envolvidos, faz-se silêncio. O grilo falante,
que se pretendia o ombudsman do
mundo, morreu. De overdose de pretensão e de corrupção, segundo o procurador-geral.
@ - crossi@uol.com.br
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