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Pagar agora, viver depois
Estamos pagando
agora o preço do esbanjamento e da falta de previdência e
rumo do passado
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ARMANDO MONTEIRO NETO
Num brilhante livro intitulado
"O Valor do Amanhã", o economista Eduardo Giannetti faz uma análise interessante de uma escolha a que estamos permanentemente sujeitos: "Pagar agora, viver depois" ou "viver agora,
pagar depois". Colocado na perspectiva
do Estado brasileiro, esse dilema nos faz
ver que os governos que administraram
o país nas últimas décadas claramente
preferiram a segunda opção. Temos vivido sob a égide de governantes que privilegiam o gasto imediato, sem se preocupar com os impactos futuros dessa
política. Nunca se esforçaram de verdade para inverter essa situação e escolheram sempre deixar os custos de sua escolha para serem enfrentados pelas próximas gerações.
O círculo vicioso de juros altos, carga
tributária em elevação e baixo crescimento econômico é conseqüência direta desse fenômeno. O Estado brasileiro
gasta mais do que arrecada e se endivida
para fazer frente às suas despesas correntes. Vive agora, paga depois. Com isso, absorve boa parte da poupança dos
brasileiros, evitando que esses recursos
sejam utilizados de forma mais eficiente
pela sociedade.
Não se trata de criticar este ou aquele
presidente por essa decisão. O descontrole fiscal é uma doença crônica da máquina pública. É um câncer que debilita
o país e impede (ou pelo menos dificulta) seu processo de desenvolvimento.
Sua cura passa necessariamente por
uma transformação do paciente, por
uma mudança radical de hábitos e de
estilo de vida.
Deixando metáforas de lado, o que
precisamos é de um Estado que gaste
menos e melhor. Que reduza gastos de
custeio, privilegie investimentos com
capacidade de geração de crescimento e
emprego, e tenha foco em suas áreas de
responsabilidade por excelência, como
educação e saúde. Precisamos realizar
de uma vez uma reforma abrangente e
definitiva, no sentido de mudar a estrutura de nossa máquina pública, reduzindo sua necessidade de financiamentos externos e otimizando seus esforços.
Nesse sentido, algumas reformas se
tornam fundamentais. O déficit gerado
pela Previdência é, por exemplo, um
dos principais sumidouros de recursos
do Orçamento da União. Seu equacionamento deveria ser uma prioridade
para qualquer candidato à Presidência.
Esse esforço deve ser acompanhado por
uma reforma administrativa abrangente e pela racionalização do sistema tributário, com diminuição da carga sobre
o setor produtivo, aumento da base de
contribuintes e redução da sonegação.
O setor industrial está dando sua contribuição para o esforço de transformação do país. O Mapa Estratégico da Indústria, documento desenvolvido no
âmbito do Fórum Nacional da Indústria
e promovido pela CNI, estabelece um
conjunto de objetivos, metas e programas que envolvem o desenvolvimento
de instituições e de políticas fundamentais para liberar o potencial de crescimento da economia. E constitui também um inédito instrumento de gestão
que vai permitir a correção de ações e o
alerta à sociedade sobre os sucessos e
fracassos em nossa rota até 2015.
As metas e os indicadores do Mapa da
Indústria compõem uma espécie de
painel de controle à disposição do país.
Mas sua implantação exigirá um movimento amplo, com a participação de diversos setores da sociedade e de governos que tenham o compromisso de
avançar no processo de modernização
do Brasil.
Quem quer que seja o novo presidente
terá de enfrentar esse desafio. Já perdemos, por diversas vezes, importantes
oportunidades para darmos um salto
rumo a um processo de crescimento
sustentado e duradouro. O desempenho pífio de nossa economia nas últimas décadas é fruto do descontrole e da
decisão de transferir custos para as gerações futuras. Estamos pagando agora
o preço do esbanjamento e da falta de
previdência e rumo do passado.
Armando de Queiroz Monteiro Neto, 54, advogado, é deputado federal (PTB-PE) e presidente da Confederação Nacional da Indústria.
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