|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
De pêndulos e certezas
SÃO PAULO - Leio na coluna de
Nelson de Sá que a revista "Newsweek" decretou o fim do mundo (o
mundo norte-americano) com a capa: "O mundo pós-americano".
Houve um tempo em que eu admirava os donos de certezas absolutas e infalíveis como a que a revista
expressa agora. Aos poucos, descobri que as certezas alheias eram, no
mais das vezes, meros chutes. Pior
para mim: nem adquiri minhas próprias certezas nem acredito mais
nas certezas alheias.
Só para ficar no caso do "mundo"
norte-americano: enquanto ajudava a preparar um caderno sobre o
lançamento do euro (como moeda
contábil, não como moeda física,
que só sairia alguns anos depois), li
uma incrível quantidade de ensaios, teses e previsões segundo as
quais o euro logo emparelharia com
o dólar como moeda universal de
reserva. Até porque já saía na frente, valendo US$ 1,20.
Veio o "boom" dos Estados Unidos, o euro desceu a US$ 0,80 e outros analistas (às vezes os mesmos)
davam a Europa como um cadáver à
espera do enterro. Não demorou, e
o pêndulo moveu-se de novo. O euro hoje vale mais que US$ 1,50, o
que dá um certo ar científico à capa
da "Newsweek".
Claro que há agora o fator China:
"O processo de auge econômico da
China é único por sua dimensão (jamais havíamos presenciado a globalização de uma economia de 1,3
bilhão de pessoas), por sua velocidade (em apenas uma década, a
China duplicou seu PIB) e por suas
reverberações mundiais", como escreve para o site "Infolatam" o economista Javier Santiso.
Mas não seria apenas mais um
pêndulo? Afinal, até princípios do
século 19, a China era uma potência
que representava um terço da economia mundial.
Além disso, há muitíssimos mais
chineses (entre um montão de outras nacionalidades) que procuram
o futuro no "mundo americano" do
que o contrário.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Auditores sem controle
Próximo Texto: Brasília - Melchiades Filho: Café-com-leite Índice
|