São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

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CLÓVIS ROSSI

De pêndulos e certezas

SÃO PAULO - Leio na coluna de Nelson de Sá que a revista "Newsweek" decretou o fim do mundo (o mundo norte-americano) com a capa: "O mundo pós-americano". Houve um tempo em que eu admirava os donos de certezas absolutas e infalíveis como a que a revista expressa agora. Aos poucos, descobri que as certezas alheias eram, no mais das vezes, meros chutes. Pior para mim: nem adquiri minhas próprias certezas nem acredito mais nas certezas alheias.
Só para ficar no caso do "mundo" norte-americano: enquanto ajudava a preparar um caderno sobre o lançamento do euro (como moeda contábil, não como moeda física, que só sairia alguns anos depois), li uma incrível quantidade de ensaios, teses e previsões segundo as quais o euro logo emparelharia com o dólar como moeda universal de reserva. Até porque já saía na frente, valendo US$ 1,20.
Veio o "boom" dos Estados Unidos, o euro desceu a US$ 0,80 e outros analistas (às vezes os mesmos) davam a Europa como um cadáver à espera do enterro. Não demorou, e o pêndulo moveu-se de novo. O euro hoje vale mais que US$ 1,50, o que dá um certo ar científico à capa da "Newsweek".
Claro que há agora o fator China: "O processo de auge econômico da China é único por sua dimensão (jamais havíamos presenciado a globalização de uma economia de 1,3 bilhão de pessoas), por sua velocidade (em apenas uma década, a China duplicou seu PIB) e por suas reverberações mundiais", como escreve para o site "Infolatam" o economista Javier Santiso. Mas não seria apenas mais um pêndulo? Afinal, até princípios do século 19, a China era uma potência que representava um terço da economia mundial.
Além disso, há muitíssimos mais chineses (entre um montão de outras nacionalidades) que procuram o futuro no "mundo americano" do que o contrário.


crossi@uol.com.br

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