São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

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MELCHIADES FILHO

Café-com-leite

BRASÍLIA - Não parece muito prudente afirmar que Aécio Neves e Geraldo Alckmin estarão no mesmo time para o que der e vier. Em primeiro lugar, há a incompatibilidade de gênios. Um não costuma fechar questão com este ou aquele grupo, basta notar o tamanho e a heterogeneidade da coalizão que o apóia em Minas. O outro, ensimesmado, não tolera o rame-rame da política. Não sabe costurar acordos, nunca desejou fazê-los.
(É interessante, aliás, como eles transformam essas características opostas em trunfos eleitorais. Aécio, o "homem do consenso"; Alckmin, o "administrador apolítico".)
Em segundo lugar, existe uma ferida aberta na relação entre os dois. O paulista não esquece que sua candidatura à Presidência em 2006 foi fortemente sabotada pelo governador mineiro no segundo turno.
Finalmente, para ocupar mais e melhores espaços em São Paulo, os alckmistas sabem que terão de acenar em algum momento para José Serra -o candidato a presidente ou o candidato à reeleição no Estado.
Mas há um fator que se sobrepõe e força a aliança tática, ainda que momentânea, entre o neto de Tancredo e o ex-governador paulista.
Os seis anos à frente do maior Estado da federação (com alto índice de aprovação) e a campanha que o projetou nacionalmente em pouco tempo viraram pó: Alckmin hoje tem de implorar uma nova chance.
Aécio olha a má situação do colega tucano e se pergunta. Quem garante que não perderá o embalo daqui até 2014? Vale o risco de ficar no Senado enquanto outras forças (o PT, sobretudo) se mexem em Minas, as mesmas que hoje se dispõem a colocá-lo no Planalto? Vale a pena desprezar a ausência de Lula em 2010 e esperar que a "fila ande"?
Quando peita o PSDB e impõe seu nome à Prefeitura de São Paulo, Alckmin joga indiretamente por Aécio, portanto. Faz uma espécie de ensaio da colisão frontal com Serra que ao mesmo tempo seduz e amedronta o governador mineiro.


mfilho@folhasp.com.br

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