|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MELCHIADES FILHO
Café-com-leite
BRASÍLIA - Não parece muito
prudente afirmar que Aécio Neves e
Geraldo Alckmin estarão no mesmo time para o que der e vier.
Em primeiro lugar, há a incompatibilidade de gênios. Um não costuma fechar questão com este ou
aquele grupo, basta notar o tamanho e a heterogeneidade da coalizão que o apóia em Minas. O outro,
ensimesmado, não tolera o rame-rame da política. Não sabe costurar
acordos, nunca desejou fazê-los.
(É interessante, aliás, como eles
transformam essas características
opostas em trunfos eleitorais. Aécio, o "homem do consenso"; Alckmin, o "administrador apolítico".)
Em segundo lugar, existe uma ferida aberta na relação entre os dois.
O paulista não esquece que sua candidatura à Presidência em 2006 foi
fortemente sabotada pelo governador mineiro no segundo turno.
Finalmente, para ocupar mais e
melhores espaços em São Paulo, os
alckmistas sabem que terão de acenar em algum momento para José
Serra -o candidato a presidente ou
o candidato à reeleição no Estado.
Mas há um fator que se sobrepõe
e força a aliança tática, ainda que
momentânea, entre o neto de Tancredo e o ex-governador paulista.
Os seis anos à frente do maior Estado da federação (com alto índice
de aprovação) e a campanha que o
projetou nacionalmente em pouco
tempo viraram pó: Alckmin hoje
tem de implorar uma nova chance.
Aécio olha a má situação do colega tucano e se pergunta. Quem garante que não perderá o embalo daqui até 2014? Vale o risco de ficar no
Senado enquanto outras forças (o
PT, sobretudo) se mexem em Minas, as mesmas que hoje se dispõem
a colocá-lo no Planalto? Vale a pena
desprezar a ausência de Lula em
2010 e esperar que a "fila ande"?
Quando peita o PSDB e impõe
seu nome à Prefeitura de São Paulo,
Alckmin joga indiretamente por
Aécio, portanto. Faz uma espécie de
ensaio da colisão frontal com Serra
que ao mesmo tempo seduz e amedronta o governador mineiro.
mfilho@folhasp.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: De pêndulos e certezas Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Fim do crime perfeito Índice
|