São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

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Trânsito: o PT não aprendeu nada

GILBERTO NATALINI

Ainda nesta semana a prefeitura completa a implantação do monitoramento via satélite dos ônibus da capital

A PROPÓSITO do PT e suas trapalhadas quando chega ao poder, têm razão os analistas políticos quando estabelecem paralelo com os Bourbon, dinastia derrubada pela Revolução Francesa, que, nas palavras de um contemporâneo, não esqueceram nada e nunca aprenderam nada. Com Marta Suplicy, os petistas administraram São Paulo por quatro anos, instalaram o caos no trânsito da cidade e, embora não tenham aprendido nada, querem agora dar lições, como tentou nesta Folha o ex-secretário dos Transportes Carlos Zarattini ("Tendências/Debates", 20/3). Ignoram que a economia aquecida pela bendita herança do PSDB no governo federal se traduz, em nosso trânsito, em mil veículos novos a mais por dia, em mais caminhões com carga circulando pela cidade, em mais pessoas que tiram o carro da garagem para ir ao trabalho.
Em sua amnésia, apagaram até certas manchetes desta Folha: "Trânsito: conserto de semáforo tem só 40% da equipe" (5/3/02); "Gestão Marta tira R$ 207 mi do trânsito" (17/3/04); "Improviso e congestionamento marcam estréia de túnel e corredor na Rebouças" (14/9/04)...
A cidade, felizmente, tem memória. Quem vive em São Paulo se recorda de que a CET foi sucateada pela gestão petista. Por falta de manutenção do total de 692 veículos da frota da empresa, 300 estavam perdidos no início de 2005. Dos 392 restantes, 164 estavam enguiçados e 228 rodavam em condições precárias. A situação dos semáforos inteligentes era ainda pior: apenas 140 funcionavam, de um total de 1.256. Ao fim do governo do PT, a CET sofreu sua pior crise, com apenas R$ 312 mil em caixa, contra compromissos previstos de R$ 4,3 milhões no mês seguinte.
Não há solução mágica para resolver os problemas de trânsito de São Paulo. É notório que isso resulta de longo período sem planejamento e investimentos consideráveis.
O governo do PT, especialmente, deixou muito a desejar. Não investiu um único tostão no Metrô. Deixou dezenas de obras inacabadas na cidade, tais como o prolongamento da Radial e a extensão da Jacu-Pêssego, na zona leste, e os complexos Jurubatuba e Real Parque, na zona sul. Vangloria-se de ter feito corredores de ônibus, mas, na verdade, deixou inacabados a maioria deles. Nem mesmo concluiu o famigerado Fura-Fila.
A gestão José Serra/Gilberto Kassab priorizou a questão do transporte público com ousadia e planejamento. Uma das primeiras medidas foi transformar o Expresso Tiradentes em realidade. Entregou dois trechos da obra, que já beneficiam 42 mil pessoas/dia, e está terminando a fase três, que chegará à Vila Prudente, para beneficiar 55 mil pessoas/dia. Colocou em licitação os trechos 4 e 5, que levarão o corredor até Cidade Tiradentes. Quando essa obra estiver concluída, 400 mil usuários serão beneficiados.
Outros dois corredores estão em licitação. Um deles é o Celso Garcia, com 25 km, ligando o Itaim Paulista ao centro da cidade. Nesse trecho, todos os ônibus serão elétricos, para melhora da qualidade do ar. O outro é o corredor Berrini, interligado ao corredor Brooklin/Diadema. Mais sete corredores estão sendo reformados e recapeados, com o objetivo de facilitar ultrapassagens e diminuir os comboios que tanto travam o fluxo.
Ainda nesta semana a prefeitura completa a implantação do monitoramento via satélite dos ônibus da capital, projeto fundamental para a gestão do transporte coletivo que foi abandonado pela gestão do PT.
Com esse sistema, o usuário saberá em quanto tempo seu ônibus chegará, quantos veículos estão naquela linha e também quanto tempo vai precisar para chegar ao seu compromisso, trazendo mais conforto e confiança no transporte público. Os caminhões terão que respeitar novas restrições de horários (das 5h às 21h) para realizar carga e descarga de mercadorias. Essas medidas fazem parte de um conjunto de ações anunciado recentemente pelo prefeito.
Nos últimos três anos, 5.000 ônibus novos foram colocados nas ruas para substituir boa parte da sucateada frota com mais de dez anos de uso.
A idade média dos veículos é de 4,7 anos, a mais nova da história da administração pública paulistana.
Uma outra mudança de paradigma é a retomada do investimento no Metrô, que não recebia recursos municipais há três décadas. No mês passado, a administração do prefeito Kassab transferiu R$ 275 milhões para o governo do Estado gastar na obra da linha Santo Amaro-Chácara Klabin e no projeto da linha Freguesia do Ó-Mooca. Até o final do ano, R$ 1 bilhão será destinado ao Metrô.
Planejar e investir são palavras de ordem da gestão atual e da pasta dos Transportes. Vamos muito além das chamadas soluções paliativas. Não há efeitos mágicos que possam recuperar anos de inércia.


GILBERTO NATALINI, médico, é vereador (PSDB) e líder da bancada tucana na Câmara Municipal de São Paulo.

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