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RUY CASTRO
Em defesa da minhoca
RIO DE JANEIRO - O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do
projeto de alteração do Código Florestal, disse outro dia, pitando um
cigarro de palha: "A legislação está
tornando inviável a agricultura e a
pecuária no Brasil. Tornou crime
ambiental o singelo ato de extração
de uma minhoca numa APP [Área
de Preservação Permanente]. Mas
tirar uma minhoca da beira do rio
não causa dano irreversível".
A minhoca é simbólica. O que o
deputado quer dizer é que o Código
Florestal é um estorvo ao processo
que ele deve achar ideal: com a remoção desta ou daquela espécie
animal ou vegetal que esteja no caminho, um latifundiário pode produzir e exportar soja e dar emprego
a seus trabalhadores para que eles
tenham cartão de crédito, comprem
celular e assistam à Copa por uma
TV de 50 polegadas.
Uma bióloga que conheço discorda dessa visão, que considera
antiga: "É o desenvolvimento hoje
e a qualquer custo, com a conta
sendo paga pelo futuro. É a velha
visão de que se pode fazer tudo pelo
e para o homem, como se ele fosse a
única espécie a ter direitos e a merecer respeito".
"Nem toda a soja do mundo vale
a extinção de uma só espécie", ela
continua. "Não existe produção
agrícola que pague a morte de nascentes de rios e a extinção de plantas e animais ainda não catalogados. Pode-se fazer uma cópia quase
perfeita da "Mona Lisa", mas não se
chega nem perto de copiar um animal que já não existe. Os australianos extinguiram o diabo-da-tasmânia e agora gastam fortunas tentando clonar embriões para refazer um
indivíduo".
Aldo Rebelo quer mudar a lei para que cada Estado determine o direito de o pequeno proprietário explorar beiras de rios, mudar cursos
d'água e desmatar encostas. Mas,
quando se pensa nos interesses que
regulam certos Estados brasileiros,
a perspectiva é a de um filme de terror -com o Brasil morrendo no fim.
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