São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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RUY CASTRO

Em defesa da minhoca

RIO DE JANEIRO - O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do projeto de alteração do Código Florestal, disse outro dia, pitando um cigarro de palha: "A legislação está tornando inviável a agricultura e a pecuária no Brasil. Tornou crime ambiental o singelo ato de extração de uma minhoca numa APP [Área de Preservação Permanente]. Mas tirar uma minhoca da beira do rio não causa dano irreversível".
A minhoca é simbólica. O que o deputado quer dizer é que o Código Florestal é um estorvo ao processo que ele deve achar ideal: com a remoção desta ou daquela espécie animal ou vegetal que esteja no caminho, um latifundiário pode produzir e exportar soja e dar emprego a seus trabalhadores para que eles tenham cartão de crédito, comprem celular e assistam à Copa por uma TV de 50 polegadas.
Uma bióloga que conheço discorda dessa visão, que considera antiga: "É o desenvolvimento hoje e a qualquer custo, com a conta sendo paga pelo futuro. É a velha visão de que se pode fazer tudo pelo e para o homem, como se ele fosse a única espécie a ter direitos e a merecer respeito".
"Nem toda a soja do mundo vale a extinção de uma só espécie", ela continua. "Não existe produção agrícola que pague a morte de nascentes de rios e a extinção de plantas e animais ainda não catalogados. Pode-se fazer uma cópia quase perfeita da "Mona Lisa", mas não se chega nem perto de copiar um animal que já não existe. Os australianos extinguiram o diabo-da-tasmânia e agora gastam fortunas tentando clonar embriões para refazer um indivíduo".
Aldo Rebelo quer mudar a lei para que cada Estado determine o direito de o pequeno proprietário explorar beiras de rios, mudar cursos d'água e desmatar encostas. Mas, quando se pensa nos interesses que regulam certos Estados brasileiros, a perspectiva é a de um filme de terror -com o Brasil morrendo no fim.


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