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FERNANDO RODRIGUES
O fim da era Fidel Castro
BRASÍLIA - Há alguns anos não
vou a Cuba, mas já estive na ilha
mais de uma vez, a trabalho e a passeio. Duas lembranças são recorrentes. Primeiro, a candura da população em meio a um paraíso tropical. Segundo, o medo que ronda quase todos os habitantes, condenados a viver fora do mundo real.
No início dos anos 90, pós-fim da
União Soviética, faltava de tudo em
Cuba para os cubanos. Já os estrangeiros compravam produtos de
consumo básico nas deploráveis
"tiendas para turistas".
Ao sair de uma dessas lojinhas,
um cubano estendeu-me um maço
de notas amassadas de US$ 1 e pediu: "Por favor, compre xampu para
mim". Quantos frascos, perguntei.
"Dois litros", foi a resposta.
Entrei novamente na "tienda" e
saí em seguida com os produtos de
uma marca cubana genérica. Entreguei ao rapaz amedrontado que me
esperava do lado de fora.
Em outra oportunidade, o taxista
que me levou para cima e para baixo
em Havana pediu apenas um favor
no dia em que me despedi: "Compre um videogame para meu filho".
Só havia modelos obsoletos à disposição. O menino ficou feliz ao receber um antiquado Atari.
Numa viagem a trabalho, precisei
fazer uma radiografia da macroeconomia de Cuba. Algo quase impossível. Exceto se algum funcionário
do governo surrupiasse papéis de
dentro dos ministérios. Pessoas
certas nos lugares certos ajudaram.
Acabou funcionando.
Cuba foi um erro histórico. Irreparável. Não há saúde e educação
que possa ser usada em troca de liberdade de expressão e do direito
de ir e vir. O fim da era Fidel talvez
faça brotar uma bananeira em cada
esquina em Cuba. Será péssimo.
Mas é melhor quando o desenvolvimento vem pelo desejo coletivo e
não pela imposição de uns poucos.
frodriguesbsb@uol.com.br
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