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FERNANDO RODRIGUES
Infância democrática
BRASÍLIA - Terminado o primeiro
debate entre candidatos a presidente da República, houve uma impressão mais ou menos consensual. Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) não tiveram um desempenho excepcional, mas se salvaram. Marina Silva (PV) foi pouco
marcante. E Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) foi o franco atirador,
ganhando uma mídia espontânea
que nunca teve.
Plínio chamou Dilma de "dona
Dilma", Marina de "ecocapitalista"
e Serra de "hipocondríaco". Para
usar uma terminologia do marxismo, o candidato do PSOL era no debate como a classe operária: não tinha nada a perder.
O encontro entre os quatro presidenciáveis na TV Bandeirantes na
noite de quinta-feira foi morno como já era esperado. Nem foi novidade o fato de um dos candidatos com
quase traço nas pesquisas chamar a
atenção. O folclórico Enéas Carneiro (1938-2007) era sempre a estrela
por onde passava com seus 15 segundos de fala.
É evidente que todos os candidatos devem ter espaço na mídia. Merecem ser entrevistados, ouvidos.
Mas quem não desejaria hoje, antes
do primeiro turno, assistir a um encontro apenas entre Dilma e Serra,
mano a mano, olho no olho? Sem
desmerecer nenhum dos outros
postulantes, já está clara e irreversível a polarização entre PT e PSDB.
Marina e seu discurso da transversalidade e Plínio com sua franqueza perfurocortante são interessantes. Na prática, ajudam a proteger Dilma e Serra. O tempo poderia
ter sido dividido por dois, entre a
petista e o tucano. Por imposição legal, o horário do debate acabou fatiado em quatro.
A lei impede debates em TV ou
rádio só com os dois mais bem colocados nas pesquisas. É outro traço
da infância democrática do sistema
eleitoral brasileiro. A pretexto de
dar espaço a todos, reduz-se o nível
de informação geral sobre quem
realmente importa.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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