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CLÓVIS ROSSI
Coincidências demais
SÃO PAULO - Ciro Gomes tem muita razão ao queixar-se do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Por mais que julgamentos sobre direito de resposta carreguem uma boa
dose de subjetividade, parece coincidência demais o fato de Ciro Gomes
ter perdido praticamente todos os
seus recursos enquanto José Serra,
seu rival mais direto na disputa pelo
segundo lugar, ganha sempre ou
quase sempre.
Exemplo menos subjetivo: se a campanha Serra pode usar cenas de Ciro
Gomes falando inconveniências, por
que a campanha Ciro não pode usar
Fernando Henrique Cardoso prometendo o que não cumpriu?
É inaceitável o argumento usado
para derrubar a propaganda de Ciro
(o fato de não ter mencionado que a
promessa de FHC sobre empregos tinha a participação do PTB, hoje coligado com Ciro).
Por essa lógica, qualquer coisa que
Ciro tenha dito entre 1988 (ano de
criação do PSDB) e 1997 (ano em que
ele deixou o partido) não poderia ser
usada nem pelo próprio Ciro nem para atacá-lo, porque ele já não está entre os tucanos.
Há mais: o presidente do TSE, ministro Nelson Jobim, deveria declarar-se impedido de proferir votos de
Minerva pelo menos em situações
que envolvam a candidatura Serra
pelos óbvios laços de amizade que o
une ao senador do PSDB.
Jobim diz que atua, sempre, como
juiz, não, portanto, como amigo de
Serra. Posso até acreditar nisso, mas,
para juízes, vale ainda mais a afirmação sobre a mulher de César
(além de ser honesta, ela tem de parecer honesta).
Juiz tem de ser e também parecer
absolutamente isento.
Uma constatação, aliás, que vale
para todo o processo eleitoral, sobre o
qual não pode pairar a mais leve
sombra de dúvida. A rigor, a evolução institucional foi a única evolução
consistente do país nos últimos 20
anos. Deixar uma dúvida sobre ela,
pequena que seja, é intolerável.
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