São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Coincidências demais

SÃO PAULO - Ciro Gomes tem muita razão ao queixar-se do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Por mais que julgamentos sobre direito de resposta carreguem uma boa dose de subjetividade, parece coincidência demais o fato de Ciro Gomes ter perdido praticamente todos os seus recursos enquanto José Serra, seu rival mais direto na disputa pelo segundo lugar, ganha sempre ou quase sempre.
Exemplo menos subjetivo: se a campanha Serra pode usar cenas de Ciro Gomes falando inconveniências, por que a campanha Ciro não pode usar Fernando Henrique Cardoso prometendo o que não cumpriu?
É inaceitável o argumento usado para derrubar a propaganda de Ciro (o fato de não ter mencionado que a promessa de FHC sobre empregos tinha a participação do PTB, hoje coligado com Ciro).
Por essa lógica, qualquer coisa que Ciro tenha dito entre 1988 (ano de criação do PSDB) e 1997 (ano em que ele deixou o partido) não poderia ser usada nem pelo próprio Ciro nem para atacá-lo, porque ele já não está entre os tucanos.
Há mais: o presidente do TSE, ministro Nelson Jobim, deveria declarar-se impedido de proferir votos de Minerva pelo menos em situações que envolvam a candidatura Serra pelos óbvios laços de amizade que o une ao senador do PSDB.
Jobim diz que atua, sempre, como juiz, não, portanto, como amigo de Serra. Posso até acreditar nisso, mas, para juízes, vale ainda mais a afirmação sobre a mulher de César (além de ser honesta, ela tem de parecer honesta).
Juiz tem de ser e também parecer absolutamente isento.
Uma constatação, aliás, que vale para todo o processo eleitoral, sobre o qual não pode pairar a mais leve sombra de dúvida. A rigor, a evolução institucional foi a única evolução consistente do país nos últimos 20 anos. Deixar uma dúvida sobre ela, pequena que seja, é intolerável.


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