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TENDÊNCIAS/DEBATES
O Plano Diretor de São Paulo contribuirá para a melhoria do trânsito na cidade?
SIM
O plano e o transporte
AILTON BRASILIENSE PIRES e EDUARDO VASCONCELLOS
O novo Plano Diretor de São Paulo,
no que diz respeito ao transporte
público e ao trânsito, constitui um
avanço significativo em relação aos planos anteriores. No entanto a implantação da infra-estrutura e dos esquemas
operacionais necessários dependerá de
projetos e ações posteriores, e de recursos cujas fontes ainda não estão claras.
O Plano Diretor aborda e trata adequadamente os principais fatores que
estão por trás dos problemas do transporte e do trânsito e faz propostas coerentes e viáveis na maioria dos casos.
O plano acerta ao dar ênfase à necessidade de controlar ou induzir o uso e a
ocupação do solo urbano, que têm relação direta com a geração de viagens de
pessoas e mercadorias. Acerta também
na proposição de intervir para reduzir a
necessidade dos deslocamentos. Parte
importante dessas ações é a proposta de
requalificação de avenidas e corredores
de transporte público, com a criação de
áreas de intervenção urbana ao longo
dos eixos. Também importante é a obrigatoriedade de propor nova lei sobre os
pólos geradores de viagem em 180 dias.
Resta, no entanto, a dúvida sobre a alteração efetiva da concentração de empreendimentos nas áreas mais ricas do
município (sul e sudoeste), um dos
maiores fatores para o grande crescimento dos congestionamentos, bem
como a mudança dos desequilíbrios nos
tipos de ocupação urbana, da qual a zona leste é caso exemplar.
Na parte específica do transporte coletivo, é proposto que ele garanta uma
mobilidade mais democrática, com ênfase para as necessidades da população
de baixa renda. Embora as propostas da
rede integrada e do bilhete único constituam grande avanço, o ponto nevrálgico aqui será o valor final das tarifas de
ônibus e a forma de integração tarifária
entre os vários modos de transporte do
município e da região metropolitana,
desafio até hoje presente.
Por outro lado, o comprometimento
do município na viabilização de recursos para o metrô e as ferrovias é uma
proposta essencial, embora devesse ser
estendida para o caso dos corredores
metropolitanos de ônibus. No entanto,
embora o Fundo de Desenvolvimento
Urbano inclua o transporte coletivo como um de seus beneficiários, o elevado
custo da infra-estrutura e dos corredores de transporte requer uma posição
mais enfática sobre a obtenção de recursos exclusivos, por um longo prazo.
Outro desafio, o de convencer os
usuários de automóvel a usar o transporte coletivo, está tratado pela oferta
de serviços especiais de ônibus. Embora
a proposta seja correta, estudos recentes
feitos pela ANTP (Associação Nacional
de Transportes Públicos) mostram que
a degradação do transporte coletivo
criou grandes barreiras psicológicas nas
pessoas, sendo necessária uma verdadeira revolução na qualidade para atrair
os usuários de automóveis (e manter os
passageiros atuais que têm alternativa
de transporte).
No caso dos usuários de automóveis,
essa atração pode ser induzida pela aplicação de sanções pecuniárias -como o
pedágio urbano, previsto no Plano Diretor-, mas sua aplicação tem obstáculos políticos difíceis de transpor.
Outro grande avanço é a proposta de
condicionar a expansão do sistema viário principalmente às necessidades do
transporte coletivo, revertendo práticas
históricas extremamente nocivas à cidade, de apoio explícito ao uso do automóvel. No entanto a abertura dada pelo
plano à construção de viadutos e passagens em desnível precisa ser exercida
com extremo cuidado, para não invalidar o princípio essencial de beneficiar a
maioria que usa o transporte coletivo.
Na área do meio ambiente, o plano
determina a implantação de programa
de controle de emissões veiculares,
componente essencial de uma política
ambiental. Porém aqui há um equívoco
que deriva de uma percepção distorcida
da realidade: o plano enfatiza a necessidade de reduzir as emissões dos veículos de transporte coletivo, sendo que a
maior parte do problema deriva dos automóveis, caminhões e motos.
O gravíssimo problema dos acidentes
de trânsito é tratado de forma mais difusa e menos incisiva, embora o plano
afirme a necessidade de reduzir acidentes e mortes no trânsito e de defender
melhores condições de circulação para
pedestres, idosos, portadores de deficiência física e crianças.
Finalmente, a proposta de regionalização dos planos de transporte e trânsito é adequada e compatível com a recente descentralização administrativa,
constituindo instrumento importante
para a democratização das decisões e
para gerar ações de maior qualidade.
Mas será necessário trabalhar o conflito
inerente entre as necessidades locais e
aquelas das macrorregiões.
Ailton Brasiliense Pires, 56, engenheiro de
transporte e trânsito, é diretor-executivo da
ANTP e membro do Conselho de Assuntos Metropolitanos da Prefeitura de São Paulo. Eduardo Alcântara de Vasconcellos, 49, engenheiro
civil e sociólogo, é diretor-adjunto da ANTP.
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