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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Festa boba

SÃO PAULO - Quer dizer, então, que todo o carnaval em torno da reforma tributária foi extemporâneo?
É a única conclusão possível quando se ouve o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, dizer que "a emenda vai ser aperfeiçoada no Senado". Mais: é no Senado, sempre segundo Dirceu, que se "discute melhor a questão do ICMS, da transição e dos fundos". Ou seja, tudo "se discute melhor" no Senado.
Então os governistas que fizeram aquela baita festa devido à aprovação da reforma tributária na Câmara são uns tolinhos?
Se a reforma vai ser aperfeiçoada no Senado, qual é a lógica de tentar passar um rolo compressor na Câmara para aprová-la? Só Deus sabe, mas eu tenho duas hipóteses:
1 - O governo não sabe lá muito bem o que está fazendo. Hipótese reforçada pelo ziguezague do Planejamento nas previsões sobre o crescimento da economia: numa semana, seria de 1,8%, conforme a proposta orçamentária. Na semana seguinte, caiu para a metade (0,9%).
Se o Planejamento planeja tão bem como faz previsões sobre o que de fato interessa (o crescimento econômico), sai de baixo.
2 - O governo gira em torno de si mesmo, na seguinte lógica: como quase todo mundo dizia, em especial os fatores de poder, que as reformas eram indispensáveis, matou-se para aprová-las.
Se as reformas são boas ou ruins, se o Senado é melhor para discutir uma (por que não a outra?), não interessa. Ao aprovar as reformas, quaisquer que sejam, o governo fica forte. Se o país fica igualmente forte ou não, se o público ganha ou não, é irrelevante para essa lógica.
O presidente vive se gabando de que se enganaram todos os que previram um baita fracasso do PT no governo e imaginaram que viria o caos. Como essa mesma gente estava na linha da frente da pregação pelas reformas, dá para deduzir que o governo governa não para os que nele votaram, mas para desmentir os que nele não acreditavam.


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