São Paulo, quinta-feira, 07 de setembro de 2006

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SERGIO COSTA

Cidade sitiada

RIO DE JANEIRO - Congestionamento na hora do rush e, de repente, tiros, muitos tiros. Um motorista à frente avisa que homens armados estão bloqueando as pistas da Linha Vermelha, no meio do caminho para o aeroporto Tom Jobim.
Da murada da via expressa, pula mais gente e inicia os saques aos motoristas. A polícia chega pela outra mão e invade a favela. O tiroteio se intensifica e, agora, motoristas e passageiros estão do lado de fora de seus carros, agachados do lado esquerdo, tentando escapar das balas perdidas. O relógio marca pouco mais de 19h de um dia comum. O relato da amiga, que estava no meio do fogo cruzado e conseguiu ir para casa nem sabe como, revela uma cidade sitiada. As vias de acesso ao Rio viraram atalho para o perigo.
Na Linha Vermelha, trajeto de quem sai da zona sul rumo à região serrana, há quadrilhas especializadas em roubar quem chega de viagem cheio malas e compras no free shop; falsos ambulantes atacam motoristas nos congestionamentos; roubos de veículos são freqüentes. Isso quando os traficantes da favela da Maré não fecham as pistas para atravessar carregamentos de drogas e armas.
Na Linha Amarela, ligação entre a Barra e as saídas pela zona norte, o perigo vem com as balas perdidas, que não raro cruzam as pistas. Na avenida Brasil, outra porta de entrada e saída da cidade, não pode chover. Com o trânsito parado pelas poças provocadas por bueiros intencionalmente entupidos, começa o saque aos veículos. Mais adiante, é comum motoristas serem fechados por veículos cheios de bandidos armados que levam seus carros. Com sorte, sem tiros.
Na Dutra, a Rio-SP, a questão é escapar das blitze para roubar carros e saquear passageiros na altura da Baixada. Sem outra saída, peça (licença ao crime) para ir e reze para voltar (inteiro). Bom feriado.


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