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ELIANE CANTANHÊDE
Aliás, é Sete de Setembro
BRASÍLIA - Na quarta-feira da semana passada, Lula abriu a rampa
do Planalto para que as famílias dos
mortos e desaparecidos chorassem
suas dores e comemorassem o livro
"Direito à Memória e à Verdade",
sobre as torturas da ditadura. Não
havia um só militar na cerimônia.
Ontem, Lula voltou a abrir a rampa, desta vez para que uma centena
de oficiais do Exército, da Marinha
e da Aeronáutica ouvissem um mea
culpa do governo pela falta de investimentos e pelo descaso das últimas décadas, junto com a promessa
de que, daqui para frente, tudo será
diferente. Não havia um só ministro vítima da ditadura e que chorou
na outra cerimônia. Nem Dilma,
nem Tarso Genro, nem Franklin
Martins (que não é mesmo chegado
a cerimônias).
Se quer "unificar o país", Lula
precisa unificar seu próprio governo. Os três ministros têm mágoas
profundas de uma época terrível do
país, mas os atuais comandos têm
razão quando reclamam que os oficiais de hoje não participaram da
repressão e muito provavelmente
são contra a tortura.
O ministro Mangabeira Unger
foi, esse sim, moderno, profissional,
sem paixões, ao lançar o debate sobre o Plano Estratégico de Defesa
Nacional. Seu discurso sobre desenvolvimento, tecnologia e soberania merece ser lido e compreendido pelos dois lados.
Toda a mídia está com o olhar focado no presidente do Senado, Renan Calheiros, que ainda prevê vitória no plenário, mas que, em qualquer hipótese, é um "cadáver insepulto" -como bem definiu ontem o
grandalhão aí de cima, o Clóvis Rossi. Mas a questão militar não deve,
ou não deveria, ficar atrás.
Lula tenta defender Renan, mas o
PT vota contra ele. Lula quer governar com o PMDB, mas o partido só
pensa nos cargos. E Lula fala em
união, mas as partes militar e civil
de seu governo não formam um todo. É melhor pensar nisso já para
não ter que juntar cacos depois.
elianec@uol.com.br
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