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NELSON MOTTA
Perdas e danos
RIO DE JANEIRO - José Dirceu é
mesmo uma lenda viva, um herói e
um grande líder com inestimáveis
serviços prestados. Mas ao PT, não
ao Brasil ou à democracia, como
proclama, contra as evidências da
história.
Para o Brasil e a democracia, desde o movimento estudantil, Dirceu
foi um desastre. Perdeu todas. Foi
um dos líderes da "estratégia" de fazer um "congresso secreto" da
UNE, em 68, com mais de 400 delegados, nas barbas do governo militar: foram todos presos, e o movimento estudantil foi destruído.
Em 1970, se exilou em Cuba, onde, depois de breve treinamento
militar, virou o "comandante Daniel". Voltou ao Brasil entre 71 e 72
para participar fugazmente da luta
armada, mas não há registros de
ações que tivesse comandado. Fugiu para Cuba, fez uma plástica e
voltou em 74, como um pacato vendedor de roupas. O resto é história.
E trágicas ilusões -como a luta
armada, que levou muitos jovens
idealistas, românticos e corajosos à
prisão, à tortura e à morte, pela pátria e pela liberdade. Mas Dirceu
queria fazer do Brasil uma grande
Cuba. O respeito à dor das famílias e
ao sacrifício de seus filhos não impediu que muitos heróis de verdade
reconhecessem o erro, que exacerbou a repressão. Dirceu perdeu essa
também.
Como deputado, fez implacável e
destrutiva campanha contra o Plano Real, a Lei de Responsabilidade
Fiscal e todas as tentativas de modernização do país. Por ele, ainda
estaríamos com nossa moeda podre, com os telefones da Telerj e internet estatal. Perdeu.
Dirceu só foi vitorioso -e como!- na construção de um PT poderoso e eficiente. Usando o carisma e a vaidade de Lula como carro-chefe, afinal chegou ao poder, mas
tentou mantê-lo para sempre. Errou feio e perdeu de novo: o Brasil e
a democracia ganharam.
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